Rio sem Homofobia, funcionando precariamente, pode ter ajuda do BNDES

Uma comissão formada por parlamentares e pela sociedade civil vai monitorar o Programa Estadual Rio Sem Homofobia.  Considerados uma referência internacional, os serviços vêm sofrendo cortes desde 2016, com o troca-troca de secretários estaduais e a crise financeira no estado.

Técnicos dos quatro centros de referência estão com três meses de salários atrasados. O Disque Cidadania LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), serviço telefônico gratuito, que antes atendia 24 horas, funciona agora entre às 10h e 20h.

O projeto de monitoramento foi anunciado em audiência pública da Comissão de Combate às Discriminações da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), presidida pelo deputado Carlos Minc (sem partido).

O parlamentar também busca apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Rio sem Homofobia. O banco confirmou que vai estudar uma forma de incentivar empresas financiadas a dar uma ajuda ao Disque Cidadania LGBT.

“Temos um programa maravilhoso, considerado referência pela União Europeia, pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, por vários órgãos. Precisamos continuar com esse nível de excelência, não podemos perdê-lo”, disse a ativista Alessandra Ramos Makkeda.

Ela também cobrou políticas para colocar transexuais no mercado de trabalho e o monitoramento de leis contra a discriminação.

Precariedade

Funcionando precariamente no Rio, em Niterói, na região metropolitana, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense e em Friburgo e atendendo a Região dos Lagos e a serra, os centros de referência sofrem com a falta de profissionais e horários reduzidos de atendimento.

O projeto começou a sofrer cortes quando o pastor Everaldo Teixeira (PTN) assumiu, em 2016, a Secretaria de Assistência Social e Direitos, a qual o programa era vinculado.

A situação melhorou quando, no fim do ano passado, a Assembléia Legislativa, por pressão dos movimentos sociais, liberou R$ 2 milhões para os custos e pagamento de pessoal. Neste ano, no entanto, a ajuda não deve sair. “Não é impossível, mas é dificílima”, informou Carlos Minc.

O cenário é desanimador, na avaliação de Felipe Carvalho, do Grupo Diversidade Niterói. Ele disse que, na prática, o Rio Sem Homofobia acabou.

“Há um ano e meio, a única coisa que fazemos é apagar incêndios burocráticos, enquanto a nossa população continua a ser violentada”, disse.

No Brasil, um assassinato motivado por homofobia ocorre a cada 25 horas, segundo o Grupo Gay da Bahia.

O novo responsável pelo programa e ex-subsecretário de Direitos Humanos, recentemente nomeado para a Secretaria Estadual de Proteção e Apoio à Mulher, Átila Nunes, disse que o governo busca alternativas. Entre elas, parcerias com a União, municípios e a iniciativa privada.

“Existe um empenho grande da subsecretaria para conseguir a continuação dos melhores serviços. O problema hoje é sistêmico, de restrição orçamentária”, afirmou.

Programa capacitou servidores

Desde 2007, o Rio sem Homofobia capacitou servidores públicos para o atendimento de vítimas de discriminação, incluindo 12 mil policiais civis e militares, além de ter realizado 90 mil atendimentos jurídicos e sociais. O Disque Cidadania LGBT, que orienta as vítimas em caso de violência e informa sobre direitos, é o primeiro serviço do tipo na América Latina.

O programa também apoiou a aprovação de lei estadual, em 2015, que multa agentes públicos por discriminar lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis. Teve participação na lei o ex-superintendente da pasta que cuidava do Rio Sem Homofobia, advogado Cláudio Nascimento, que ficou dez anos no cargo. Ele saiu no fim de fevereiro por conta de novos cortes.

A medida que teve mais repercussão, no entanto, foi a que legalizou o casamento civil gay no país. Por meio do programa, o estado do Rio de Janeiro levou a questão ao Supremo Tribunal Federal, em 2011,  pacificando um tema que há anos se arrastava no Poder Judiciário.

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como brasileiros driblam a alta dos preços dos alimentos

Inflação mudou os itens nos carrinhos de supermercado e chegou a afetar a popularidade de Lula. Famílias de diferentes bairros de São Paulo contam sobre sua forma de lidar com a situação. "Driblar os preços." É …

Como Alzheimer deixou ator Gene Hackman sozinho em seus últimos dias: 'Era como se vivesse em um filme que se repetia'

O ator Gene Hackman estava sozinho em sua casa, na cidade de Santa Fé, Novo México, nos EUA, quando faleceu. A estrela de Hollywood, com duas estatuetas do Oscar, não fez uma única ligação e não …

Fenômeno misterioso no centro de galáxia pode revelar nova matéria escura

Pesquisadores do King's College London apontaram, em um novo estudo, que um fenômeno misterioso no centro da nossa galáxia pode ser o resultado de um tipo diferente de matéria escura. A matéria escura é um dos …

ONU caminha para 80 anos focando em reformas e modernização

O líder das Nações Unidas, António Guterres, anunciou o lançamento da iniciativa ONU 80 que quer atualizar a organização para o século 21. Na manhã desta quarta-feira, ele falou a jornalistas na sede da ONU que …

Premiê português cai após denúncia de conflito de interesses

Luís Montenegro perdeu voto de confiança no Parlamento, abrindo caminho para novas eleições. Denúncia envolve pagamentos de uma operadora de cassinos a empresa de consultoria fundada por político. O primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro, e sua …

Como a poluição do ar em casa afeta a saúde e piora doenças respiratórias

Um levantamento feito em 2024 pela associação Santé Respiratoire France, a pedido da empresa francesa Murprotec, uma das maiores do setor, mostrou que a poluição em ambientes fechados é até nove vezes maior do …

1ª mulher presidente no STM: “Se chegarem denúncias sobre o 8 de janeiro, vamos julgá-las”

Em entrevista à Agência Pública, Maria Elizabeth Rocha, fala de golpe, Justiça Militar e extremismo nas Forças Armadas. O caminho da ministra do Superior Tribunal Militar (STM) Maria Elizabeth Rocha até a presidência da Corte, no …

Fim do Skype: veja 7 apps para fazer chamadas de vídeo

A Microsoft anunciou que o Skype será desativado em 5 de maio de 2025, depois de mais de 20 anos de serviço. Depois do encerramento da plataforma, os usuários poderão migrar para o Microsoft Teams …

O que aconteceu nos países que não fizeram lockdown na pandemia de covid

Em março de 2020, bilhões de pessoas olhavam pelas janelas para um mundo que não reconheciam mais. De repente, confinadas em suas casas, suas vidas haviam se reduzido abruptamente a quatro paredes e telas de …

Iniciativa oferece 3,1 mil bolsas para mulheres em programação e dados

Confederações de bancários e Febraban anunciaram vagas em três cursos. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e as confederações de bancários – como a Contraf e o Contec – anunciaram nesta terça-feira (11) a oferta …