Falar e sensibilizar a plateia com relação às questões das pessoas com deficiência é o papel principal da Turma do Bairro. O grupo de bonecos, que realiza apresentações teatrais interativas para todos os públicos, faz parte de uma das atividades da Sorri-Campinas, instituição parceira da Fundação FEAC.
Inspirados na técnica japonesa Bunraku, os bonecos representam jovens com deficiência física, visual, auditiva e intelectual. A intenção é mostrar de uma forma divertida, porém esclarecedora, que a deficiência não pode ser um tabu. É preciso conversar sobre o assunto e mostrar que a pessoa com deficiência deve ser vista pelo seu potencial, suas habilidades e aptidões.
Segundo a coordenadora técnica do programa Turma do Bairro, Maria Olímpia da Silva Machado Luz, trabalhar a inclusão por meio dos bonecos é uma forma de abordar a questão de forma leve e descontraída. “Levamos o teatro às escolas e as crianças acabam ficando motivadas mesmo se tratando de um assunto sério”, destacou.
O teatro propõe um processo interativo, conduzindo a plateia a conversar com os bonecos. “Queremos a conscientização da sociedade e temos que desmistificar a deficiência. Levar os bonecos para as escolas é uma maneira de mostrar às crianças que somos todos iguais. Eles fazem perguntas, interagem e tiram suas dúvidas e preconceitos”, falou Maria Olímpia.
Para a assessora técnica do Departamento de Assistência Social (DAS) da Fundação FEAC, Natália Valente, a Turma do Bairro rompe as barreiras atitudinais.
“Vencer nossas barreiras é um dos principais passos para a efetiva inclusão da pessoa com deficiência. A estratégia utilizada pela Sorri alcança esse objetivo, buscando a experiência e vivência educacional. Desta forma, as crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos conseguem romper os estigmas a partir de um diálogo com bonecos”, comentou.
De acordo com a coordenadora, o projeto vem crescendo desde sua criação em 2013.
“Apresentamos a Turma do Bairro ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Campinas e conseguimos uma verba para comprar os bonecos e capacitar os profissionais. Com isso, começamos a visitar as escolas e levar o assunto da inclusão para todos. Os bonecos falam de uma forma muito gostosa a respeito de um assunto que é pesado. Tratar da deficiência não é fácil, mas os fantoches mostram o lado positivo”, garantiu.
Desta forma, a Turma do Bairro difunde a cultura da inclusão sensibilizando o público a receber positivamente as pessoas com deficiências. Também contribui para o combate ao preconceito e à discriminação e para a criação de um ambiente solidário.
Teatro
Numa apresentação divertida e descontraída, os bonecos ganham vida com os atores Rodolfo Berini, Lílian Lima, Genivaldo Aleixo e Lílian Lazaretti. Para encarar o público e falar sobre as deficiências abordadas no espetáculo, todos passaram por capacitações.
“Já viemos do teatro de boneco, então não precisamos fazer oficinas para manipular os fantoches, mas estamos sempre estudando e aprendendo. Além das capacitações tem também a convivência com os usuários da Sorri, que é muito enriquecedora”, explica Rodolfo.
O teatro conta com os bonecos Marcos, que é um cadeirante que tem paralisia cerebral; Ronaldo, com deficiência visual; Márcia, com deficiência auditiva; e Patrícia, que não tem nenhum tipo de deficiência e serve como um elo entre o público e os bonecos.
Cada fantoche tem função de transmitir a mensagem de alguma forma. A Patrícia é amiga dos meninos com deficiência e ela dá a deixa para o público interagir com os outros personagens. Já Marcos, Ronaldo e Márcia contam sobre suas vidas, dificuldades e alegrias.
“A Patrícia fala dos preconceitos, dúvidas e medos que as pessoas têm. Ela também tem a oportunidade de explicar o que é a deficiência, suas causas, tratamento e prevenção, seus sentimentos, emoções, dificuldades, potencialidades e projetos de vida. Já a plateia faz perguntas que são utilizadas para estimular o debate e esclarecer dúvidas”, explicou Rodolfo.
Segundo a coordenadora, mais um boneco está por vir: a Gabriela que tem Síndrome de Down. “Os atores irão fazer a capacitação para atuarem com a Gabi e nossa intenção é adquirir outros dois fantoches, um autista e outro epilético”, destacou Maria Olímpia.
Apresentações
Entre todas as apresentações já realizadas, uma em especial marcou muito a Turma do Bairro. “Participamos de uma apresentação que a Fundação FEAC promoveu no Teatro Iguatemi e nossos personagens foram os mestres de cerimônia. Foi emocionante porque pudemos passar a mensagem da inclusão ao nosso maior público em teatro fechado (mais de 500 pessoas estavam presentes)”, afirmou Rodolfo.
De acordo com Maria Olímpia, a Turma do Bairro já passou por praças, empresas e escolas e pode ir para qualquer lugar onde haja pessoas interessadas. “O espetáculo tem tudo a ver com cidadania e respeito. É o momento de reflexão sobre o que podemos fazer, como agir. Aqui, nós trabalhamos o empoderamento da pessoa com deficiência”, explicou a Maria Olímpia.
A Turma também recebe o público na sede da Sorri. “Quando recebemos as pessoas, colocamos em prática outro programa nosso, o Arte e Cidadania, que utiliza a arte como instrumento de capacitação a longo prazo. Então nossos usuários recepcionam os visitantes, nós entramos em cena, mas eles são responsáveis pelos visitantes até o final da apresentação”, destacou.
Para o usuário Lucas Pratali, de 21 anos, o trabalho realizado pela instituição é muito importante para que as pessoas conheçam o assunto. “É muito bom porque assim uns ajudam os outros e acaba com o preconceito”, opinou.
“Queremos estar cada vez com mais gente, ir aos locais e falar sobre o tema. Por mais que a gente ache que a inclusão está acontecendo, nos deparamos com o preconceito uma hora ou outra. Nossa intenção é levar o teatro para todas as escolas municipais e também gostaríamos de trabalhar mais com os professores, equipe gestora e familiares. É mais um desafio que queremos encarar”, relatou.
A Sorri também pensa em levar o espetáculo para se apresentar nos bairros. “Estamos pensando sobre esse assunto. Quem sabe um ‘teatro truck’, mas para isso precisamos de verba. Esse projeto seria fantástico porque poderíamos atingir um número enorme de pessoas”, complementou Maria Olímpia.
Laura Gonçalves Sucena // Razões para Acreditar