Após ignorar avisos de dor, BRF é condenada por conta de dedo inutilizado

Funcionária de frigorífico pediu licença do trabalho diversas vezes e, mesmo depois de fazer cirurgias, não conseguiu a dispensa do serviço

A BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão, foi condenada a pagar R$ 75 mil por danos morais e estéticos a uma funcionária que trabalhou com o seu dedo lesionado até ele ficar inutilizado.

A empregada do frigorífico do município de Herval d’Oeste, Santa Catarina, reclamou de dores e apresentou dois atestados de médicos pedindo seu afastamento, mas a empresa a manteve trabalhando enquanto o problema se agravava.

Além da indenização, o frigorífico terá que pagar um salário vitalício e R$ 50 mil reais para despesas médicas da trabalhadora.

O juiz do Trabalho Gustavo Menegazzi analisou o caso em junho deste ano e classificou o tratamento dispensado à funcionária como “inaceitável”, afastando a tese da defesa, de que ela seria a única culpada pela situação.

A BRF recorreu do caso, que voltou a ser julgado no último mês, pela 5ª Câmara do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina.

Ela decidiu, por unanimidade, que a empresa é culpada e que teria agido com imprudência, sem adotar medidas preventivas, segundo o relator, desembargador José Ernesto Manzi.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a BRF afirmou “que ofereceu o apoio necessário ao tratamento da colaboradora e recorrerá da decisão”:

“A BRF informa que ofereceu o apoio necessário ao tratamento da colaboradora e recorrerá da decisão. A companhia esclarece ainda que monitora regularmente as unidades a fim de prevenir riscos, contando com uma equipe de saúde com quase 200  funcionários diretos e mais de 40 indiretos em todos os frigoríficos do Brasil entre médicos, enfermeiros, ergonomistas, fisioterapeutas.

Além disso, conta com projetos específicos para a área como o Programa Fábrica Legal. Criado em 2014, o projeto atua na gestão da saúde ocupacional nas unidades produtivas e recebeu cerca de R$ 1 bilhão em investimentos, nos últimos três anos, para estruturar os processos que resultam em auditoria de suas fábricas por equipe multidisciplinar, cujo propósito é avaliar as condições de trabalho de seus colaboradores e outros aspectos relacionados às Normas vigentes.”

Copa do Mundo

O problema começou em 17 de junho de 2014, dia em que a seleção brasileira empatou com o México. A funcionária carregava bacias com cerca de 20 quilos de carne no lugar de colegas que haviam sido dispensados para assistir ao jogo.

Quando uma dessas bacias caiu sobre a sua mão direita, ela reclamou da dor ao seu supervisor, que a orientou para continuar trabalhando.

Dois dias após o ocorrido, um dos dedos da mão machucada enrijeceu e seu supervisor tentou endireitá-lo puxando-o com força, segundo o texto da sentença do juiz Menegazzi.

Sem sucesso, o seu chefe a encaminhou para o ambulatório, onde o médico fez um Raio-x e a mandou retornar ao trabalho.

A funcionária continuou a reclamar da dor nos dias seguintes, e, submetida a um exame ultrassom, retornou ao trabalho com o dedo dobrado e rígido.

Como não conseguia mais usar a luva de malha, equipamento de proteção dos funcionários que lidam com objetos cortantes, foi deslocada para outra função no frigorífico, onde usaria somente uma mão.

O dedo enrijecido começou a ficar roxo e a soltar pus aparente. No ambulatório da empresa, o médico mandou que, mais uma vez, ela retornasse ao trabalho.

Após muitas queixas, ela foi encaminhada a um médico que retirou a carne que estava apodrecida em seu dedo para que ele pudesse se regenerar. Mesmo assim, a BRF não aceitou o atestado para que ela parasse de trabalhar por 15 dias.

Como ela não tinha condições de fazer qualquer serviço, foi determinado que permanecesse em uma sala isolada dentro da empresa.

Depois desse período, a trabalhadora teve que fazer outra cirurgia, retirando parte da carne da palma da mão para enxertar no dedo. Após três dias de internação, recebeu um atestado de 45 dias que, mais uma vez, não foi aceito pela empresa.

Segundo depoimento da trabalhadora no processo, ela afirma ter sido necessário “brigar com o pessoal da empresa”, mostrando o dedo em carne viva, para finalmente ser afastada com o benefício previdenciário.

Por fim, a perícia médica apontou que o dedo não poderá mais ser recuperado e o próximo passo provável é a amputação, o que deve impedi-la de exercer a mesma atividade profissional permanentemente.

A empresa, em nota divulgada à Repórter Brasil, disse que alocou “cerca de R$ 1 bilhão em investimentos, nos últimos três anos, para estruturar os processos que resultam em auditoria de suas fábricas por equipe multidisciplinar, cujo propósito é avaliar as condições de trabalho de seus colaboradores e outros aspectos relacionados às normas vigentes”

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …