Basta um dado sobre a violência contra a mulher para entender a dimensão do problema no Brasil: aqui, por hora, cerca de 500 brasileiras são agredidas, em sua vasta maioria em casa pelos próprios maridos. Mas a situação na Rússia consegue ser pior.
E ainda que se trate de assombrosa estatística, outros países conseguem ser consideravelmente piores – e a atual sede da Copa do Mundo, a Rússia, é definitivamente um deles. Nascer mulher por lá é conviver com níveis assustadores de violência, e pior: muitas vezes com a complacência ou mesmo a concordância das autoridades e das leis.
Os dados de violência por hora na Rússia contra mulheres são quase três vezes piores que os brasileiros: por lá, enquanto acontece o primeiro tempo e o intervalo de uma partida da Copa, antes do segundo tempo começar, uma média de 1.370 mulheres terão sofrido episódios de violência.
E uma lei em especial, apelidada de de “lei do tapa“, ilustra os costumes e a própria Constituição russa, assim como o terrível impacto que o legislativo pode causar diretamente na vida das pessoas.
A lei sobre violência doméstica na Rússia prevê que boa parte das agressões deve ser resolvida em casa, sem a interferência da polícia – a não ser que as mulheres ou mesmo as crianças sejam hospitalizadas ou estejam em estado grave de saúde.
Sem ossos quebrados, sangue ou coisa do tipo, a orientação da polícia é de simplesmente conversar com o agressor, na maioria das vezes pelo telefone – ou realmente não fazer nada. Não é incomum que casos de agressões se transformem em situações extremas de violência, assassinato ou tortura contra mulheres.
Cerca de 40% dos crimes no país são cometidos por familiares, em casa, mas as questões de gênero ou de direitos humanos são desprezadas por políticos – que vão ao extremo oposto, criando leis como a “antipropaganda gay” ou a “lei do tapa” supracitada, ambas criadas por uma parlamentar mulher.
Com a lei, se um homem der socos, tapas ou mesmo provocar cortes em sua esposa ou nos seus filhos, o máximo que lhe ocorrerá é o pagamento de uma multa de 470 dólares, e eventualmente uma detenção de duas semanas.
Segundo o Hypeness, trata-se da “legalização da violência doméstica, justificada pelos costumes, pela defesa da família, por premissas religiosas ou pelo apelo popular de uma parte dos russos”.
Existem, claro, outras parlamentares lutando pelo direito das mulheres e dos homossexuais no país, mas a luta é ainda árdua: não há nada similar a uma Lei Maria da Penha para proteger as mulheres minimamente.
Ciberia // Hypeness
Enquanto isso, a Lei Maria da Penha (tida pela ONU como uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra as mulheres), sancionada por Lula em 2006 e grandemente robustecida durante o governo Dilma não teve assim tanto reconhecimento ou consideração pelas brasileiras. Elas é que estiveram em maior número no apoio ao impeachment. Concordo plenamente com quem diz que o machismo, frequentemente, é maior entre mulheres que entre homens.