Foi em pleno almoço de Páscoa que, “quase por brincadeira”, a família do designer brasileiro Alexandre Fantozzi o convenceu de elaborar um projeto de reconstrução da catedral Notre-Dame de Paris, cujo telhado foi destruído em um incêndio em 15 de abril.
A 11 mil quilômetros de distância e sem conhecer pessoalmente o monumento mais visitado do mundo, ele imaginou o novo telhado e a agulha com vitrais – uma referência às famosas rosáceas que compõem a catedral gótica.
Fantozzi publicou a ideia nas redes sociais – e se surpreendeu com a repercussão, principalmente no exterior. Agora, ele pretende formalizar a candidatura ao concurso internacional que será lançado pelo governo francês para a escolha do projeto de restauração da catedral.
“Concebi o projeto nas minhas horas vagas, da meia-noite às 6h. Foi um pouco uma brincadeira no início, mas, depois do post, acabou ficando sério”, comentou Fantozzi, sócio do escritório AJ6 Studio, de São Paulo.
“Deu uma repercussão bacana. Uns reclamam, mas a maioria elogia. Um russo disse que se tivesse tecnologia na época, eles teriam feito o telhado assim.”
O desenho da cobertura e da agulha seriam idênticos aos originais. No post no Instagram, o designer defende a restauração, e não a recriação do monumento.
Contato com empresa que construiu pirâmide do Louvre
Fantozzi contatou a empresa francesa Saint Gobain, referência em produção de materiais diferenciados para a arquitetura, com a qual já havia trabalhado no passado. No portfólio, a tradicional fabricante, fundada em 1665, tem nada menos do que execução da pirâmide do Museu do Louvre.
“Eles gostaram da ideia e disseram que já entrariam em contato com o governo francês para saber como fazer para nos inscrever.”
Ele conta que não costuma trabalhar com vidros – mas, no caso da Notre-Dame, avaliou que a escolha se impõe para reconstruir tanto o telhado, quanto a agulha do monumento. Seria elaborada uma estrutura metálica leve, sobre a qual seriam encaixados os painéis de vidro, “como um Lego”, conta.
“Os vitrais foram uma inspiração pela catedral ser no estilo gótico. Nós apenas jogamos a ideia: teria de encontrar um artista de vitrais, de preferência francês, para fazer os desenhos”, afirma.
O telhado poderia ser iluminado à noite, gerando um efeito de “grandiosidade”, conforme explicou em seu post. “No gótico, há a conexão entre a Terra e o céu, e dentro da catedral, a iluminação natural se multiplica em cores através do filtro do telhado de vitrais.”
Designer não teme ter a ideia roubada
Questionado se não teme que, uma vez divulgado o projeto nas redes sociais, alguém roube a proposta do telhado de vitrais, o paulistano demonstrou tranquilidade. “Agora já tem um registro. Se aparecer um depois, a própria rede social já é uma prova que de fizemos primeiro e, na arquitetura, a lei protege a autoria dos projetos”, garante.
Desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou o concurso, os maiores escritórios do mundo se lançam com as ideias mais ousadas para substituir o telhado e a agulha da Notre-Dame.
Alguns mantêm os traços da estrutura original, mas inovam nos materiais, a exemplo de Fantozzi. Outros dão asas à imaginação e veem na ocasião a oportunidade de introduzir profundas modificações.
Há, por exemplo, telhados vegetais e até a representação de uma flama metálica, para imortalizar o incêndio que atingiu o prédio, construído há mais de 800 anos.
// RFI