O filho de célebres desertores sul-coreanos decidiu se mudar para a Coreia do Norte, em um caso raro de alguém tentando migrar para o regime de Kim Joung-un, segundo a mídia oficial norte-coreana.
Choe In-guk é filho de um ex-chanceler sul-coreano que desertou para a Coreia do Norte com sua esposa em 1986. Segundo a mídia estatal norte-coreana, ele viverá na Coreia do Norte e trabalhará em questões de reunificação.
Deserções desse tipo são muito raras. É mais comum que as pessoas da Coreia do Norte tentem fugir para o Sul. Os dois países ainda estão tecnicamente em guerra e os sul-coreanos precisam de permissão para visitar o Norte.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul confirmou que Choe não solicitou tal permissão para sua viagem. “Ainda não está claro como exatamente a deserção aconteceu”, disse Oliver Hotham, do site de notícias NK News, em Seul, à BBC.
“Mas seria bastante simples para um sul-coreano chegar ao Norte viajando pela China, se tivesse a bênção do regime.” No entanto, se Choe violou a lei sul-coreana ao não pedir permissão de seu governo, ele poderia ser preso se decidisse voltar, dizem especialistas.
Quem é Choe In-guk?
Choe é um cidadão sul-coreano de 73 anos, mas pouco se sabe sobre sua vida pessoal ou suas opiniões políticas. Ele tem uma esposa e uma filha na Coreia do Sul.
Seus pais, no entanto, foram os sul-coreanos mais conhecidos a desertarem para o Norte desde o fim da Guerra da Coreia, conflito militar que ocorreu entre 1950 e 1953 e contribuiu para agravar a divisão já existente entre os dois países.
A chegada de Choe em Pyongyang foi divulgada pela mídia estatal do Norte, que mostrou o homem sendo calorosamente recebido por autoridades norte-coreanas. Ele é citado no site de propaganda norte-coreano Uriminzokkiri dizendo: “Viver em e seguir um país pelo qual me sinto grato é um jeito de proteger a vontade deixada por meus pais”. “Então decidi morar definitivamente na Coreia do Norte, embora tardiamente.”
Meios de comunicação sul-coreanos relataram que Choe não teve uma vida fácil no Sul e precisou lutar contra o estigma de ser “filho do traidor”.
Ele teria mudado de emprego várias vezes e vivido com dinheiro que sua mãe enviou da Coreia do Norte em 2016, pouco antes de morrer. Choe viajou para o Norte frequentemente nos últimos anos e assistiu ao funeral da mãe lá.
Quem eram seus pais?
Pai de Choe In-guk, Choe Tok-sin foi ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul durante a década de 1960. Nos anos 1970, ele emigrou para os EUA, onde se tornou um crítico severo do governo da Coreia do Sul sob o comando do líder militar Park Chung-hee.
Uma década depois, em 1986, Tok-sin ganhou as manchetes ao desertar para a Coreia do Norte ao lado de sua esposa, Ryu Mi-yong. Eles deixaram seus cinco filhos adultos na Coreia do Sul.
O casal se tornou parte da elite política de seu novo país. Choe Tok-sin foi vice-presidente do Comitê para a Reunificação Pacífica da Pátria, que lidava com as relações com a Coreia do Sul, e presidente do Comitê Central do Partido Cheondoista Chongu, um grupo político afiliado a uma religião coreana chamada Chondo.
Ele morreu em 1989, e Ryu Mi-yong assumiu seu papel como líder do movimento religioso. Ela também herdou outras posições de destaque.
A família tem laços de longa data com a liderança norte-coreana. O avô paterno de Choe In-guk é conhecido por ter sido um mentor de Kim Il-sung, o fundador da Coreia do Norte, durante a luta contra o domínio japonês.
Quão comuns são as deserções?
Na península coreana, os desertores são geralmente cidadãos do Norte que tentam escapar do fechado regime de Kim Joung-un para a Coreia do Sul, um país mais democrático e rico. Tais deserções são muito perigosas. Segundo dados de Seul, mais de 30 mil norte-coreanos cruzaram ilegalmente a fronteira desde o final da Guerra da Coreia, em 1953.
Ainda de acordo com estatísticas sul-coreanas, os números caíram um pouco nos últimos anos. Houve 1.127 deserções em 2017 contra 2.706 em 2011. Em alguns casos, soldados norte-coreanos cruzaram a fronteira a pé, muitas vezes sob uma chuva de balas.
A maioria dos desertores foge pela China, que tem a maior fronteira com a Coreia do Norte. É mais fácil escapar por essa divisa do que pela Zona Desmilitarizada (DMZ, na sigla em inglês), uma área fortemente protegida e vigiada entre os dois países. A China considera os desertores como migrantes ilegais, e não como refugiados, e muitas vezes os repatria à força.
As deserções do Sul para o Norte são muito raras e frequentemente envolvem os chamados “desertores duplos” – pessoas que fugiram da Coreia do Norte para o Sul, mas acabaram voltando ao país de origem.
Esses casos eram mais comuns antes da fome devastadora que, estima-se, matou centenas de milhares de pessoas na Coreia do Norte em meados dos anos 1990.
// BBC