Otan tenta exibir união, enquanto líderes são flagrados falando de Trump

Chefes de Estado e de Governo de 29 países participaram nesta quarta-feira (4) do segundo dia da cúpula de aniversário de 70 anos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em Watford, nos arredores de Londres.

Os líderes tentam exibir união, apesar da tensão entre Estados Unidos, França e Turquia. Num contexto que já era delicado, imagens flagradas por câmeras de televisão acrescentaram ainda mais desconforto, ao mostrarem o presidente francês e os premiês do Reino Unido, do Canadá e da Holanda supostamente rindo do americano Donald Trump.

Enquanto conversavam durante o jantar oferecido pelo Palácio de Buckingham para os participantes da cúpula, na noite desta terça-feira (3), os quatro e a princesa britânica Anne falam sobre o presidente americano.

“Foi por isso que você se atrasou?”, questionou o inglês Boris Johnson ao francês Emmanuel Macron, antes de o canadense Justin Trudeau acrescentar: “Ele se atrasou porque ele teve uma coletiva de imprensa inesperada de 40 minutos [com Trump]”. Todos riem.

A resposta de Macron é inaudível, mas a conversa não deve contribuir para melhorar o clima no evento. Horas antes, o presidente da França esteve ao lado do americano e os dois falaram sobre a situação da Otan, classificada como em “estado de morte cerebral” por Macron, em novembro.

Troca de farpas entre Paris, Washington e Ancara

Nesta terça, Trump julgou as críticas “ofensivas”, mas o francês disse que não apenas “mantém” a declaração, como pediu um diálogo estratégico com Moscou e explicações para a Turquia sobre sua intervenção contra as forças curdas no norte da Síria. A operação turca se iniciou logo depois de os Estados Unidos se retirarem bruscamente da região síria.

A enviada especial da RFI a Londres, Anissa El Jabri, relata que Macron explicou que a sua intenção foi relançar a aliança. O francês denunciou as decisões unilaterais dos Estados Unidos e da Turquia, que colocaram em perigo as operações internacionais contra a organização Estado Islâmico na Síria, das quais a França e outros aliados também participam.

Paris e Ancara não escondem o desconforto atual das relações entre os dois países. “A Turquia bloqueia tudo”, resumiu um diplomata francês à RFI, referindo-se a um eventual veto da declaração conjunta final e dos acordos de defesa com os países bálticos.

“Não é a primeira vez que a aliança enfrenta suas diferenças e sempre soube superá-las”, declarou o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, ao chegar para a cúpula de Watford.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, quer que os aliados reconheçam a milícia curda YPG, contra a qual lançou uma ofensiva no norte da Síria em outubro, como organização “terrorista”. Caso contrário, ameaça vetar as decisões na cúpula.

Mas Macron, muito crítico da ofensiva turca, já alertou que as organizações não devem ser misturadas, especialmente porque a YPG foi aliada dos países ocidentais na luta contra o Estado Islâmico (EI).

Diálogo com a Rússia não é consenso

Já o objetivo de Macron de ampliar o diálogo com a Rússia desagrada outra parcela dos aliados, em especial a Polônia. Em Moscou, em um raro comentário positivo em relação à Aliança Atlântica, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que “mesmo que a organização se comporte de maneira incorreta, às vezes grosseira com a Rússia, nós queremos cooperar em assuntos como o terrorismo internacional, os conflitos armados e a proliferação de armas de destruição em massa”.

Os países bálticos, que temem uma Rússia mais assertiva por seu papel no conflito na Ucrânia desde 2014, reclamaram da possibilidade de se alcançar um compromisso, nas palavras do presidente lituano Gitanas Nauseda. Stoltenberg expressou sua confiança em conseguir uma “solução” com Erdogan e reiterou que a Otan tem “planos” e “forças” para protegê-los da Rússia.

A expectativa é de que uma declaração comum dos membros da Otan seja adotada para designar o espaço de operação da aliança. O texto ainda deve levar em consideração o contexto de crescimento militar da China e a pressão de Trump sobre aliados que investem bem menos na organização do que os Estados Unidos.

// RFI

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