Em uma entrevista publicada nesta quinta-feira (07/11) pela revista The Economist, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou considerar que a Otan está em situação de “morte cerebral”. A opinião foi prontamente rebatida pela chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel.
Macron ainda alertou para a “extraordinária fragilidade” da Europa, que não pode mais contar com os Estados Unidos para se defender, e sugeriu que os governos do continente devem começar a refletir “como uma potência no mundo”.
Ele ainda criticou o que diz ser uma falta de coordenação entre a Europa e os Estados Unidos, e condenou as ações agressivas na Síria por parte da Turquia, que detém o segundo maior exército da aliança.
“Não há nenhuma coordenação na tomada de decisões estratégicas entre Estados Unidos e seus aliados da Otan. Nenhuma. Há uma ação agressiva, descoordenada, de outro aliado da Otan, a Turquia, em uma zona em que nossos interesses estão em jogo”, declarou.
Ele ainda descreveu como um “pequeno milagre” que, nas últimas sete décadas, o mundo tenha construído “uma equação política sem hegemonia, permitindo a paz”.
“Mas agora há uma série de fenômenos que nos coloca à beira do precipício”, afirmou Macron, pedindo para que a Europa se mexa e comece a agir “como uma potência, pois, caso contrário, desaparecerá”.
O presidente francês afirmou que, em sua opinião, a construção do continente europeu concentrou-se em um alargamento constante, o que significa “um erro profundo, pois reduziu o propósito político de seu projeto desde a década de 1990”.
Paralelamente, os EUA, que nas palavras de Macron são “grandes aliados da Europa”, começaram a olhar mais para a China, um movimento iniciado no governo de Barack Obama. Mas, de acordo com o mandatário francês, “Donald Trump é o primeiro presidente que não compartilha da ideia do projeto europeu e se afasta dele”.
Logo após tomar conhecimento das declarações de Macron, a chanceler federal alemã, que nesta quinta-feira se encontrou em Berlim com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse não compartilhar da opinião do francês.
“Macron escolheu palavras drásticas, não é a visão que eu tenho da Otan. A Otan é indispensável, devemos tomar em nossas mãos o destino da Europa, mas acredito que a Otan avançou e tem um trabalho muito mais político do que anos atrás”, afirmou.
Merkel também reiterou o compromisso de seu país de atingir a meta de dedicar 1,5% de seu PIB com gastos militares até 2024. “Aumentamos significativamente nossas despesas militares e atualmente estamos negociando os orçamentos do ano que vem”.