O ex-produtor de cinema Harvey Weinstein foi condenado pelos crimes de estupro e abuso sexual por um tribunal em Nova York nesta segunda-feira (24/02) – um marco para o movimento #MeToo, que inspirou mulheres a denunciarem publicamente assédios cometidos por homens poderosos.
Weinstein, que já foi um dos produtores mais influentes de Hollywood, foi declarado culpado por estuprar a atriz Jessica Mann num quarto de hotel em Nova York em março de 2013.
Ele também foi condenado por agredir sexualmente a ex-assistente de produção Mimi Haleyi. Segundo a acusação, o réu praticou sexo oral na vítima contra sua vontade no apartamento dele, em Nova York, em julho de 2006.
Contudo, o ex-produtor foi absolvido de outras duas acusações mais graves, de comportamento sexual predatório, que poderiam lhe render uma pena de prisão perpétua.
Weinstein, de 67 anos, foi algemado por policiais ainda no tribunal, depois que o juiz James Burke ordenou que ele seja mantido sob custódia até a decisão sobre suas sentenças, que somadas podem chegar a 29 anos de prisão. A audiência foi marcada para 11 de março.
O juiz afirmou que vai pedir que Weinstein, que foi posto em liberdade sob fiança após ter sido preso quase dois anos atrás, fique detido numa enfermaria, atendendo a pedidos dos advogados que alegaram que ele precisa de atenção médica após uma cirurgia malsucedida.
“Hoje é um novo dia, porque Harvey Weinstein finalmente foi responsabilizado pelos crimes que cometeu”, disse o promotor Cyrus Vance Jr. “Weinstein é um predador sexual cruel e em série que usou seu poder para ameaçar, estuprar, agredir e enganar, humilhar e silenciar suas vítimas.”
Vance Jr. ainda agradeceu ao júri pelo veredito que, segundo ele, “virou uma página em nosso sistema de justiça criminal”, bem como às mulheres que o denunciaram: “Nós devemos uma imensa dívida de coragem a vocês“, afirmou o promotor.
A defesa de Weinstein, por sua vez, afirmou que vai recorrer da decisão. “Harvey é incrivelmente forte. Ele encarou isso como um homem”, disse a advogada Donna Rotunno. “Ele sabe que continuaremos a lutar por ele, e sabemos que isso não acabou.”
Outro advogado de Weinstein, Arthur Aidala, citou o réu dizendo à sua equipe jurídica: “Eu sou inocente. Eu sou inocente. Eu sou inocente. Como isso pôde acontecer nos EUA?”
O julgamento do ex-produtor começou em 6 de janeiro com a escolha do júri, que foi formado por sete homens e cinco mulheres. Em 22 de janeiro, a promotoria e a defesa apresentaram os argumentos iniciais e começaram a ouvir testemunhas. Os responsáveis por analisar os argumentos e provas começaram a deliberar na última terça-feira, e nesta segunda apresentaram a decisão sobre a condenação ou absolvição.
Weinstein ainda enfrenta acusações de agressão sexual na Califórnia, anunciadas horas após o início de seu julgamento em Nova York no início de janeiro.
Mais de 80 mulheres, incluindo atrizes famosas de Hollywood, acusaram o produtor de uma série de atos de abuso sexual que remontam a décadas. Weinstein, por sua vez, insiste que todas as suas relações sexuais foram consensuais.
Nesta segunda-feira, celebridades e ativistas dos direitos das mulheres comemoraram o veredito contra o ex-produtor, vencedor do Oscar em 2009 pelo filme Shakespeare apaixonado. “O júri trabalhou com um conjunto de leis incrivelmente estreito e injusto sobre assédio sexual, e embora não tenha sido condenado em todos os casos, Harvey Weinstein terá que responder por seus crimes”, diz um comunicado divulgado pelo movimento #MeToo.
Por sua vez, o Silence Breakers, grupo de acusadoras de Weinstein, escreveu: “Embora seja decepcionante que o resultado de hoje não tenha proporcionado a justiça completa e verdadeira que tantas mulheres merecem, Harvey Weinstein será conhecido para sempre como um predador em série condenado.”
“Gratidão às mulheres corajosas que testemunharam e ao júri por enxergar além das táticas sujas da defesa”, afirmou a atriz Rosanna Arquette, que disse ter resistido a indesejados avanços sexuais por parte de Weinstein. “Mudaremos as leis no futuro para que as vítimas de estupro sejam ouvidas e não desacreditadas e, assim, seja mais fácil para as pessoas denunciarem estupros.”