Constantes mudanças de ministro feitas por Jair Bolsonaro têm “impacto político importante”, mas “simplificação da política” praticada pelo presidente o “mantém no cargo”, disse sociólogo à Sputnik Brasil.
Para Dario Sousa e Silva, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), as trocas de funcionários do governo, tanto do primeiro quanto do segundo escalão, podem ser explicadas por “um esforço” de Bolsonaro de “falar para sua base eleitoral, que precisa simplificar a política”.
“Essa é a principal tarefa do presidente Bolsonaro: caracterizar a política como um confronto entre eles e nós, entre A e B, uma posição e uma anteposição”, afirmou o especialista.
Ele acrescenta ainda que é justamente essa “tarefa” de “simplificação da política” que faz com que Bolsonaro “ainda se encontre no cargo”,
Segundo Sousa e Silva, o fenômeno ocorre ao mesmo tempo em que a “democracia brasileira vai se tornando mais complexa desde a redemocratização, em 1985”.
‘Guinada à extrema-direita’
“A principal característica dessa guinada à extrema-direita dos últimos tempos é esse processo de simplificação”, apontou.
Em pouco mais de um mês, dois ministros da Saúde deixaram o cargo, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich; Moro pediu demissão da pasta da Justiça; e Regina Duarte saiu da Secretaria de Cultura.
Ao todo, nove ministros foram demitidos ou se demitiram ao longo de todo o governo. Além disso, mais dois mudaram de pasta: Onyx Lorenzoni saiu da Casa Civil e foi para a Cidadania; e André Luiz Mendonça deixou a Advocacia-Geral da União para assumir o Ministério da Justiça.
Para o sociólogo, as “mudanças não têm um caráter técnico”, e demonstram que o “presidente precisa insistir numa imagem de que conduz a política“.
‘Quem obedece a quem’
Souza e Silva aponta ainda que, “cada vez mais”, Bolsonaro “tem se cercado de uma base militar, grupo que favorece a imagem que ele quer passar, de hierarquia e comando, cujo principal valor é a obediência”.
“Só não fica claro quem obedece a quem”, afirmou o professor, para quem a principal agenda do governo hoje “tem sido segurar o presidente no cargo.
De acordo com o sociólogo, tantas mudanças evidenciam “uma instabilidade flagrante” do governo, o que “deveria golpear mais fortemente a relação com o legislativo”.
“Mas o legislativo, principalmente na figura do presidente do Congresso [Davi Alcolumbre], vem negociando bastante eficazmente a manutenção do governo, no sentido de que variadas justificativas e pedidos de impeachment vem sendo sistematicamente ignorados”, disse Sousa e Silva.
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