Presidente aproveitou saída de Ernesto Araújo da pasta das Relações Exteriores para mudar também comando da Defesa, da Justiça, da Casa Civil, da Secretaria de Governo e da Advocacia-Geral da União.
O Presidente Jair Bolsonaro anunciou na noite desta segunda-feira (29/03) uma reforma ministerial. Após o anúncio da saída de dois ministros durante a tarde, o presidente confirmou pelo Twitter a troca do comando de seis pastas. Os nomes devem ser publicados no Diário Oficial da União.
Ernesto Araújo deixou o Ministério das Relações Exteriores, que passará a ser chefiado pelo embaixador Carlos Alberto Franco França. Atualmente, França é assessor especial de Bolsonaro, mas, até poucos meses atrás, ocupava o cargo de chefe do cerimonial da Presidência da República. No exterior, atuou como ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil na Bolívia e serviu em representações diplomáticas em Washington, nos Estados Unidos, e em Assunção, no Paraguai.
No ministério da Defesa, sai Fernando Azevedo e Silva e entra o general Walter Souza Braga Netto, atual chefe da Casa Civil.
Na vaga aberta na Casa Civil, entra Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria de Governo, que passa a ser chefiada pela deputada federal Flávia Arruda (PL-DF), que faz parte da base de apoio do governo no Congresso. Ela é do bloco político do presidente da Câmara, Arthur Lira, e esposa de José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal condenado por participar do esquema de corrupção conhecido como “Mensalão do DEM”.
Com a saída de José Levi da Advocacia-Geral da União (AGU), entra o ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), André Mendonça, que volta a ocupar o mesmo cargo em que esteve até abril de 2020, quando substituiu o ex-ministro Sergio Moro no comando do MJSP.
Por sua vez, a pasta da Justiça passa a ser ocupada pelo delegado de Polícia Federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Com a dança das cadeiras, Levi, Araújo e Azevedo e Silva ficaram sem ministérios.
Aceno ao Centrão
O tamanho da reforma surpreendeu, já que, até o fim de semana, apenas a saída de Araújo era dada como provável. Segundo interlocutores, Bolsonaro aproveitou a saída dele para realizar uma reforma maior.
Para analistas, as mudanças são um aceno ao Centrão. As trocas ocorrem poucos dias após Lira ter criticado o governo e afirmado que estava “apertando o sinal amarelo” e que os remédios políticos do Congresso para lidar com a “espiral de erros” no combate à pandemia são “conhecidos”, “amargos” e alguns, “fatais”.
“Muitas vezes [os remédios políticos] são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, frutos da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política”, declarou na ocasião, em discurso no plenário da Câmara.
Pressão pela saída de Araújo
A primeira troca anunciada nesta segunda-feira foi a de Araújo. Extremista de direita e adepto de teorias conspiratórias, Araújo era visto como um obstáculo na diplomacia entre o Brasil e vários países, dificultando acordos comerciais, como compra de vacinas da China e da Índia.
Embora apoiado pelo Presidente, a situação de Araújo ficou insustentável depois que Senado, Câmara, generais, grandes empresários e lideranças do agronegócio se uniram nos últimos dias para tirá-lo da Esplanada. Recentemente, Lira chegou a afirmar que Araújo perdeu a capacidade de dialogar com países.
Além de toda pressão externa, a situação de Araújo era insustentável dentro do próprio Itamaraty. No sábado, um grupo de cerca de 300 diplomatas divulgou uma carta na qual criticaram a postura adotada pelo ministro e deram a entender que desejavam que o chanceler deixasse o cargo.
A carta não cita nominalmente Araújo, mas deixa claro o desastre diplomático causado pelo ministro desde que assumiu a pasta. A situação teria se agravado com a condução da política externa no contexto da pandemia.
A carta foi divulgada três dias após Araújo ter participado de uma audiência no Senado sobre a atuação da pasta para obter vacinas contra a covid-19 no exterior. O ministro teria se oposto à entrada do Brasil no consórcio global liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) Covax Facility, que prevê o envio de 42 milhões de doses de imunizantes para o país.
Durante a audiência, vários senadores criticaram duramente a atuação extremamente ideológica do ministro e defenderam a demissão de Araújo
Ministro deixa Defesa sem explicar motivos
Horas depois do anúncio da saída de Araújo, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, também deixou o cargo, sem explicar os motivos. “Agradeço ao presidente da República, a quem dediquei total lealdade ao longo desses mais de dois anos, a oportunidade de ter servido ao país, como Ministro de Estado da Defesa. Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”, afirmou Azevedo e Silva em nota.
“O meu reconhecimento e gratidão aos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, e suas respectivas forças, que nunca mediram esforços para atender às necessidades e emergências da população brasileira. Saio na certeza da missão cumprida”, acrescentou.
Pouco depois, foi a vez de o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Levi, também entregar o cargo. De acordo com a imprensa brasileira, a saída de Levi teria sido pedida por Bolsonaro após o chefe da AGU ter se recusado a assinar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade do Planalto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra restrições impostas pelos governadores da Bahia, do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal para conter a pandemia.