Evo Morales comemora vitória de seu candidato, Luis Arce, à presidência na Bolívia

De La Paz, na Bolívia, o candidato a presidente Luis Arce e, de Buenos Aires, na Argentina, o ex-presidente Evo Morales comemoram vitória nas eleições tanto para presidente quanto para o Congresso, realizadas neste domingo (18). A presidente Jeanine Áñez, mesmo sem dados oficiais, admitiu a vitória da oposição que voltaria ao poder um ano depois de renunciar. Confirmado o resultado, a Bolívia se afastaria do Brasil e se alinharia com Venezuela e Argentina.

Inicialmente, o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, baseado em dados próprios, anunciou na Argentina, onde está refugiado, que o seu candidato, Luis Arce, foi eleito presidente na votação realizada nesse domingo e que o seu partido conseguiu maioria na Câmara de Deputados e no Senado.

Logo depois, o próprio candidato Luis Arce, apoiado em sondagens de boca de urna, anunciava a volta ao poder do Movimento ao Socialismo (MAS), onze meses depois da renúncia de Evo Morales.

Recuperamos a democracia e recuperamos, sobretudo, a esperança“, disse Luis Arce do escritório central de campanha do MAS, no bairro de Sopocachi, em La Paz, onde horas antes a vizinhança fizera um “panelaço” contra a sua candidatura.

Arce fez o discurso de vitória usando as mesmas palavras que Evo Morales tinha proferido minutos antes. “Vamos governar para todos os bolivianos. Vamos construir um governo de unidade nacional. Vamos reconduzir o nosso processo de mudança sem ódio, aprendendo e superando os nossos erros”, assegurou.

O discurso abordou três eixos: a recuperação da democracia, a união de todos os bolivianos sem rancores e a ideia de que o país era próspero, mas foi desviado do rumo pelo suposto “golpe”. “Estávamos indo por um bom caminho e houve uma mudança brusca, com um golpe de Estado que desestruturou tudo o que estávamos fazendo. O povo boliviano quer retomar o rumo do crescimento e de tudo o que estávamos construindo”, disse Luis Arce.

Evo Morales volta ao poder

Pouco antes, Evo Morales havia anunciado a vitória de Arce, em Buenos Aires. “Me assinalaram a vitória do irmão Lucho (Luis Arce), como presidente, e do irmão David (David Choquehuanca), como vice-presidente. Além disso, o MAS terá maioria nas duas câmaras da Assembleia Legislativa. Irmãos da Bolívia e do mundo, Lucho será o nosso presidente”, declarou Evo Morales em um discurso lido, sob aplausos da militância.

No momento em que o ex-presidente fez o anúncio, não havia ainda nenhuma informação oficial que confirmasse a vitória de seu candidato. Até então, o Tribunal Supremo Eleitoral tinha apurado apenas os primeiros 6% dos votos e o MAS de Evo Morales obtinha 33,3% dos votos, enquanto o candidato do Comunidade Cidadã, Carlos Mesa, obtinha 49,7%.

Nenhum instituto de pesquisa havia ainda anunciado sondagens de boca de urna, o que levou Morales a desconfiar da demora. “Hoje recuperamos a democracia. Recuperamos a pátria. Recuperaremos a estabilidade e o progresso. Recuperaremos a paz. Devolveremos a liberdade e a dignidade ao povo boliviano”, afirmou.

O ex-presidente também chamou as lideranças a um grande acordo nacional para tirar o país da crise. “Devemos deixar de lado as diferenças, os interesses setoriais e regionais para conseguirmos um grande acordo nacional com partidos políticos, empresários, trabalhadores e o Estado. Juntos construiremos um país sem rancores e que nunca recorra à vingança”, disse Morales.

O analista político Raúl Peñaranda não tem dúvidas de que, se a contagem oficial confirmar a vitória, Luis Arce pode ser presidente, mas quem vai governar realmente será Evo Morales. “Ele não só vai voltar à Bolívia, onde há vários processos abertos contra ele, como será quem vai realmente exercer o poder”, garante Peñaranda à RFI.

Bolívia afasta-se do Brasil

O economista e analista político, Carlos Toranzo, uma referência na Bolívia, prefere esperar o resultado oficial, mas disse que, se a vitória de Evo Morales, através de seu candidato Luis Arce, for confirmada, a Bolívia voltará a um alinhamento com a Venezuela e com a Argentina e dará um sinal à esquerda da região de que existe possibilidade de retorno ao poder.

“A disputa na Bolívia é um embate entre as duas posições ideológicas na região representadas no grupo de Puebla e o Grupo de Lima”, indica Carlos Toranzo à RFI.

Se Carlos Mesa ganhar, haverá uma aliança com os governos de centro-direita da região, reunidos no Grupo de Lima que se opõe ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela.

Já a vitória de Luis Arce vai significar a volta da Bolívia ao alinhamento com a esquerda da Venezuela e da Argentina, governos que aderem ao Grupo de Puebla. “O resultado pode fortalecer ou não o Grupo de Puebla, esse grupo herdeiro do Foro de São Paulo, onde a esquerda da região se refugia hoje. Seria bom para o Grupo de Puebla ter um novo aliado. Politicamente, demonstraria que o populismo tem capacidade de retorno”, avalia.

Pesquisas de boca de urna

Na Bolívia, para ser eleito no primeiro turno são necessários 50% dos votos ou 40%, desde que haja uma diferença de, pelo menos, dez pontos sobre o segundo colocado.

Na noite deste domingo (18), dois institutos de pesquisa divulgavam sondagens quase idênticas. Segundo a Cies Mori Luis Arce obteve 52,1%, Carlos Mesa, 31,5% e Luis Fernando Camacho, 14,1%. A “Tu Voto Cuenta” apontou a 53% para Luis Arce, 30,8% para Carlos Mesa e 14,1% para Fernando Camacho.

Até mesmo a presidente Jeanine Áñez, inimiga política do MAS, admitiu a vitória da oposição. “Ainda não temos dados oficiais, mas com os dados que dispomos, Arce e Choquehuanca ganharam a eleição”, disse. Já o candidato Carlos Mesa disse, de acordo com seu porta-voz, que “esperará ter a confirmação dos resultados oficiais”.

O presidente do Tribunal Supremo Eleitoral, Salvador Romero, pediu à população “calma e paciência” para a divulgação do resultado final que pode demorar dias.

Todas as sondagens indicavam uma vitória de Luis Arce, mas sem a quantidade suficiente para evitar o segundo turno. Em nenhuma delas, a diferença entre Luis Arce e Carlos Mesa superava os dez pontos necessários para se ganhar no primeiro turno e nenhuma indicava uma votação acima de 50%.

// RFI

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