Reunido esta semana com líderes da comunidade judaica e evangélicos, o prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), defendeu a construção de muros na cidade, como em Jerusalém, para combater a violência urbana e impedir a entrada de drogas e armas na cidade.
“Deveria ser murado como Jerusalém”, disse Marcelo Crivella.
Logo após vencer a eleição, Crivella foi a Jerusalém, no início deste mês, para se encontrar com o prefeito da cidade, Nir Barkat, com quem conversou sobre diversos temas, entre eles educação, turismo e segurança e voltou entusiasmado com os sistemas de vigilância adotados na cidade, como treinamento da polícia e arsenal de armas não letais.
A proposta de murar o Rio, porém, tem sido mal recebida por especialistas em segurança pública, como Flávio Testa, um dos maiores especialistas do assunto no país e também professor da Universidade de Brasília (UnB).
Em entrevista à Sputnik News Brasil, Testa comparou a proposta com a do futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que durante a campanha prometeu ampliar a construção de muros e barreiras ao longo dos 3 mil quilômetros de fronteira com o México.
“É completamente equivocada esta leitura, assim como a de Trump, de querer fazer um muro para apartar a chegada de imigrantes. O Muro de Berlim não deu certo e esses muros não vão dar certo”, diz Testa.
“No Rio de Janeiro, além de ser geograficamente inviável fazer isso, é completamente fora de propósito você propor esse tipo de apartheid sob a alegação de que você impediria a chegada de armas e o tráfico de drogas. Até parece que o prefeito eleito não conhece a realidade”, acrecsenta o especialista.
“Fica muito mais no nível do discurso populista e, pior, comparando a geografia e a realidade do Rio de Janeiro com a de Israel. São dois mundos completamente distantes. Jerusalém não pode ser comparada ao Rio de Janeiro em nenhum aspecto, conclui.
Testa observa que o Brasil é um Estado laico, onde se tem liberdade religiosa e aqui não há conflitos étnicos graves como em Israel.
Segundo ele, o problema aqui é o apartheid social e o trabalho de reconquista de áreas urbanas, que começou com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), e que não foi à frente devido à falta de ações sociais do Estado nas comunidades.
“Vão construir que tipo de muros, se os caras conseguem derrubar helicóptero da polícia com uma ponto 50? Os caras entram em presídio de helicóptero. Ele deveria propor ações de inteligência muito mais eficazes de educação e tentar fazer parcerias com o governo federal e as Forças Armadas para combater o contrabando de armas.”
O especialista diz que alguns políticos brasileiros tentam pegar esse discurso de Trump e de outros líderes, mas não é possível resolver o problema da violência no Rio construindo muros.
“É impossível murar o Rio de Janeiro. Imagina a cidade mais importante do ponto de vista turístico, de ressonância cultural murada? Vai virar um castelo feudal. Nem recursos para isso ele teria com o Estado na situação pré-falimentar e ainda mais o município.”
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