A reunião extraordinária do Conselho do Mercado Comum (CMC) do Mercosul, nesta quarta-feira (14), em Buenos Aires, foi marcada por uma certa tensão, por causa da crise entre a Venezuela e os demais países do bloco.
Isto porque os quatro países fundadores do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – enviaram uma comunicação à Venezuela informando a suspensão do país no bloco, que não poderia portanto participar da reunião.
A Venezuela não foi convidada para participar depois de a 1 de dezembro o país ter sido suspenso do bloco devido ao suposto descumprimento de obrigações perante o Mercosul.
Mas numa clara afronta à decisão, a chanceler venezuelana Delcy Rodriguez, representante do governo de Nicolás Maduro, chegou à capital argentina com a intenção de participar do encontro, ao lado de seu homólogo boliviano, David Choquehanca.
Durante uma conferência de imprensa, a chanceler venezuelana denunciou uma conspiração contra a Venezuela. Segundo a ministra, houve um boicote a seu país.
Rodríguez deixou claro que a Venezuela já incorporou 95% das normas do Mercosul na sua legislação nacional.
Rodriguez e Choquehanca acabaram sendo recebidos pela chanceler anfitriã, a argentina Susana Malcorra, e encaminhados para uma sala, onde a venezuelana chegou a postar uma foto no Twitter dizendo estava “esperando pelos chanceleres” do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
“Os ministros das Relações Exteriores da Tríplice Aliança em conluio contra a Venezuela e o Mercosul se recusam a dialogar com a Bolívia e a Venezuela”, escreveu Rodriguez em sua conta no Twitter, junto à foto de uma sala vazia da chancelaria argentina, que havia sido preparada para a reunião.
Por “tríplice aliança”, Rodriguez referiu-se aos governos da Argentina, do Brasil e do Paraguai, que no início do mês resolveram expulsar a Venezuela do bloco sul-americano, o que foi considerado como um golpe de Estado por Caracas.
No entanto, ao saber da presença da ministra da Venezuela, os chanceleres dos outros quatro países se retiraram do local e se reuniram em outra sala.
O ministro das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, chegou a postar nas redes sociais, quase ao mesmo tempo, uma outra foto em que aparece ao lado dos outros três representantes em outra sala.
Mesmo passando horas no local, a chanceler venezuelana não foi recebida pelos outros membros do Mercosul.
Rodriguez deixou o local furiosa e improvisou um “comício” à frente do Palácio San Martin. “Há um golpe de Estado em curso no Mercosul. Se não deixarem a gente entrar pela porta, nós entraremos pela janela. Viemos para defender a dignidade de nosso povo”, disse a representante de Caracas.
Delcy Rodríguez denunciou entretanto que um policial a agrediu quando ela tentou entrar na sala de reunião dos chanceleres do Mercosul, o que causou uma onda de indignação por parte de vários outros ministros do governo venezuelano.
Delcy Rodríguez denunciou esse episódio e agradeceu o apoio por parte dos movimentos sociais argentinos e dos deputados do partido oposicionista de Cristina Kirchner, Frente para a Vitória.
Em 29 de julho, o Uruguai encerrou seu mandato de seis meses à frente da presidência do bloco e não repassou o cargo à Venezuela, como determinava o estatuto do bloco.
Brasil, Argentina e Paraguai têm, desde então, somado esforços para impedir que o país assuma o posto, chegando a autoproclamar uma gestão compartilhada entre os três países. Juridicamente, contudo, a manobra não tem amparo nos estatutos do bloco. Na prática, o Mercosul está com a presidência vaga desde 1º de agosto.
Entretanto, na reunião extraordinária desta quarta-feira, a presidência pro tempore do bloco foi transferida para a Argentina, para o primeiro semestre de 2017.
Participaram do encontro os ministros das Relações Exteriores da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai. A Bolívia, por sua vez, está à espera de sua adesão ao bloco.