O clima de tensão voltou a dominar a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Natal, na manhã dessa segunda-feira (16). Um dia após o assassinato de pelo menos 26 detentos que cumprem pena na unidade e poucas horas depois de policiais militares deixarem o local, um grupo de detentos voltou a ocupar os telhados dos pavilhões.
A Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social diz que não se trata de mais uma rebelião, mas admite que devido ao “clima tenso” policiais do Batalhão de Operações Especiais e do Grupo de Operações Especias da Polícia Militar foram acionados para voltar ao local. Agentes da Força Nacional de Segurança estão do lado de fora da unidade, de prontidão para, se necessário, auxiliar as forças locais.
O motim ocorreu por uma disputa entre duas facções, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte, que lutam pelo domínio do sistema carcerário no Estado. O Sindicato do Crime é uma dissidência do PCC que surgiu por volta de 2012. Os 26 mortos no domingo eram membros do Sindicato do Crime, que agora cobra a saída do PCC do presídio.
Imagens divulgadas pela imprensa exibem homens sobre os telhados de pavilhões empunhando paus, pedras e barras de ferro. Vestindo calções azuis, alguns homens enrolaram camisetas brancas na cabeça para esconder o rosto. Alguns portam bandeiras improvisadas com lençóis enquanto gritam palavras de ordem como “a vitória é nossa”, em aparente provocação a integrantes de facções rivais.
Alcaçuz foi palco de uma rebelião que durou cerca de 14 horas, entre sábado (14) e domingo (15). Pelo menos 26 presos foram assassinados por outros detentos. Já na madrugada de hoje (16), as forças de segurança foram acionadas para conter uma rebelião na Cadeia Pública Professor Raimundo Nonato, localizado no bairro Potengi, também na capital potiguar. As duas unidades estão distantes cerca de 40 quilômetros uma da outra.
De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), na cadeia pública não houve fugas ou feridos, e o controle da situação foi retomado em poucas horas.
As autoridades estaduais ainda investigam as causas das ações, mas não descartam a hipótese de os tumultos desta segunda-feira serem uma reação às inspeções nos principais estabelecimentos carcerários do estado. Segundo a Secretaria da Justiça e da Cidadania, as dependências de Alcaçuz devem voltar a ser revistadas em busca de armas, celulares, drogas e outros objetos ou substâncias proibidas.
Governo do RN suspeita que pode haver mais corpos em Alcaçuz
A suspeita de que mais de 26 presos podem ter sido mortos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz motivou a Secretaria da Justiça e da Cidadania do Rio Grande do Norte (Sejuc) a pedir à Companhia de Águas e Esgotos do estado (Caern) que inspecione as fossas existentes no interior da unidade.
Um caminhão e equipes da empresa chegaram à penitenciária, no bairro Potengi, na manhã de hoje (16). Segundo a assessoria da Seju, o trabalho está atrasado devido a um novo tumulto na unidade. nesta segunda-feira, poucas horas depois que policiais militares deixaram o local, um grupo de detentos voltou a ocupar os telhados de um dos pavilhões. As autoridades estaduais de segurança pública negam tratar-se de mais uma rebelião, mas admitem que, devido ao “clima tenso”, adiaram também o início da revista nas celas e a recontagem de presos.
De acordo com a Sejuc, as equipes da Caern vão inspecionar as fossas assim que as forças policiais retomarem o controle da situação e as condições de segurança estejam garantidas. Às 13h (horário de Brasília), policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Grupo de Operações Especias (GOE) estavam prestes a ingressar na penitenciária.
Ontem mesmo, o Itep já tinha sido autorizado a alugar um contêiner frigorífico para armazenar os corpos encontrados em Alcaçuz. Embora o instituto disponha de duas câmaras frias com capacidade para abrigar entre 20 e 30 corpos em cada uma delas e receba, em média, cinco corpos diariamente, a diretoria do Itep decidiu agir preventivamente para garantir que não falte espaço, caso o total de detentos mortos seja maior que as primeiras informações divulgadas. O valor do aluguel do contêiner não foi informado.