Um abeto isolado, conhecido como “a árvore mais solitária do mundo”, contém o marcador geológico que assinala o início do Antropoceno, época que alguns definem como “o princípio do fim da humanidade”.
Se quisermos definir o Antropoceno como o momento em que “a humanidade inventou a tecnologia para se tornar extinta”, então “a árvore mais solitária do mundo” diz que tudo começou em 1965.
Essa é a conclusão dos pesquisadores Chris Turney e Jonathan Palmer, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, e Mark Maslin, da Universidade do Colégio de Londres, no Reino Unido, destacam em um artigo no The Conversation.
O Antropoceno ou Antropocêntrico, também descrito como “a idade recente do homem”, é um termo ainda controverso, sendo usado por cientistas para definir a fase atual da história da Terra, assinalando aquele que teria sido o momento em que os humanos assumiram domínio absoluto sobre a natureza.
Há cientistas que defendem que a intervenção humana na Terra, fruto do desenvolvimento tecnológico, teve um impacto tão importante no planeta que originou uma ruptura com o passado e um novo começo, à semelhança do que teria acontecido quando um asteroide aniquilou os dinossauros, acabando com o período Cretáceo e dando início ao Paleógeno, constata o Live Science.
Esse momento, do fim do Cretáceo, é detectável nos registros geológicos como um “pico no elemento iridium“, substância provavelmente originária do asteroide que colidiu com a Terra.
Assim, uma “assinatura” geológica semelhante teria que existir para “definir o Antropoceno como uma época real”, salienta a publicação. O caminho para essa “assinatura” pode estar nos testes nucleares realizados acima do solo, durante o período mais tenso da Guerra Fria.
“Potencial marcador para o início do Antropoceno”
Já se especulou que o aumento dos gases de efeito estufa ou do carbono na atmosfera, ou ainda o boom populacional do pós-Segunda Guerra Mundial, seriam marcadores dessa nova época.
Mas, afinal, o Antropoceno teria começado em 1965, concluem os pesquisadores no artigo científico publicado nos Scientific Reports. É um abeto isolado, da espécie Sitka, que fica na Ilha Campbell, ao sul da Nova Zelândia, que aponta para a data, explicam os autores do estudo.
Localizado a mais de 275 quilômetros de qualquer outra árvore, o abeto é descrito como “a árvore mais solitária do mundo” e não é nativa da ilha. Foi plantada no local, no início do século XX, pelo governador da Nova Zelândia, Lord Ranfurly.
“A madeira da árvore registrou o radiocarbono produzido por testes de bombas atômicas acima do solo” que foram realizados nos anos de 1950 e 1960, explicam os cientistas.
As “análises detalhadas do crescimento ano a ano da árvore mostram que o pico nos elementos radioativos aconteceu entre outubro e dezembro de 1965, o que coincide com o mesmo sinal no hemisfério norte”, acrescentam.
Assim, os pesquisadores acreditam que o abeto nos dá “um potencial marcador para o início do Antropoceno“, demonstrando “inequivocamente que os humanos deixaram um impacto no planeta”, que ficará “preservado no registro geológico por dezenas de milênios e para além disso”.
Os arbustos da ilha também registraram o aumento do radiocarbono na atmosfera a partir de 1954, atingindo seu pico entre 1965 e 1966.
Ciberia // ZAP