Australiano, que até então se dizia inocente, trouxe alívio à Nova Zelândia ao mudar de postura. Com declaração, julgamento se tornou desnecessário. Não há data para sentença, possivelmente de prisão perpétua.
Um homem australiano acusado de matar 51 fiéis muçulmanos em duas mesquitas em março de 2019, no pior ataque a tiros da história da Nova Zelândia, se declarou culpado dos homicídios nesta quinta-feira (26/03). Até então ele vinha se dizendo inocente, e a mudança causou surpresa entre as famílias das vítimas e sobreviventes e alívio na sociedade neozelandesa.
Brenton Tarrant, de 29 anos, apareceu numa transmissão ao vivo por vídeo a partir de sua cela numa prisão de segurança máxima de Auckland e admitiu ser o responsável pela morte de 51 pessoas, além de se declarar culpado de 40 acusações de tentativa de homicídio e uma acusação de cometer ato terrorista numa audiência convocada às pressas pelo Supremo Tribunal sobre os ataques de Christchurch.
O australiano é o primeiro culpado por terrorismo na Nova Zelândia, cujas leis relativas ao crime foram aprovadas após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center nos Estados Unidos.
O massacre aconteceu no dia 15 de março de 2019, quando Tarrant também foi preso. Na ocasião, ele foi acusado de usar armas semiautomáticas para alvejar muçulmanos concentrados em duas mesquitas na cidade neozelandesa para as preces de sexta-feira. O ataque foi transmitido ao vivo pela rede social Facebook, onde foi visto por centenas de milhares de pessoas.
Pouco antes dos ataques, Tarrant postou um manifesto de 74 páginas nas redes sociais em que chamava migrantes de “invasores” e fazia alusão à expressão “genocídio branco”, um termo usado por supremacistas brancos para contestar o crescimento de populações minoritárias.
Os ataques levaram a mudanças nos protocolos de empresas como o Facebook, além de impulsionar novas leis na Nova Zelândia, que baniu os tipos mais letais de armas semiautomáticas.
O fato de Tarrant ter se declarado culpado torna desnecessário um julgamento de um mês e meio previsto para começar em junho. Em vez disso, o tribunal deverá pronunciar diretamente a sentença de Tarrant pelas 92 acusações. O australiano deverá pegar prisão perpétua. Ainda não foram divulgadas informações sobre quando ele poderá se tornar elegível para um regime condicional.
A corte não marcou uma data para o veredicto, principalmente por causa da quarentena de um mês declarada em todo o país devido à pandemia do coronavírus. A audiência desta quinta-feira também aconteceu com apenas 17 pessoas presentes no tribunal, incluindo os dois imãs que atuavam nas mesquitas alvejadas. Tarrant deverá ficar detido até o dia 1º de maio.
A primeira-ministra Jacinda Ardern, que foi elogiada em todo o mundo por sua gestão após os ataques, disse estar aliviada com a declaração do australiano. “Toda a nação, mas particularmente a comunidade muçulmana, foi poupada de um julgamento que poderia ter sido usado como plataforma [para divulgar as convicções de Tarrant]”, afirmou.
O australiano se mudou para a Nova Zelândia em 2017, morando na cidade universitária de Dunedin. Frequentava uma academia, praticava tiro numa área de um clube de rifles e acumulou um arsenal de armas. Não se sabe se ele tinha um emprego na época. Em alguns posts na internet, Tarrant declarou ter herdado uma quantia significativa de dinheiro após a morte do pai.
Ele parecia ter fascínio por conflitos religiosos na Europa e nos Bálcãs e visitou vários países no Leste Europeu antes de cometer os ataques. Depois dos tiros disparados na segunda mesquita, Tarrant estava dirigindo – a suspeita é de que ele queria cometer um terceiro ataque. Foi nesse momento que dois policiais bateram em seu carro, tirando-o da rua, e o prenderam.