O presidente Jair Bolsonaro cancelou nesta sexta-feira (03/05) a viagem que faria a Nova York para receber a homenagem “Pessoa do Ano” da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. A escolha do homenageado foi alvo de críticas de políticos e ativistas americanos e várias empresas chegaram a desistir de patrocinar o evento.
A cerimônia estava prevista para ocorrer em 14 de maio. Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que o presidente agradece a homenagem proposta, mas diante as críticas geradas, decidiu cancelar a viagem após consultar setores do governo.
“Em face da resistência e dos ataques deliberados do prefeito de Nova York e da pressão de grupos de interesses sobre as instituições que organizam, patrocinam e acolhem em suasinstalações o evento anualmente, ficou caracterizada a ideologização da atividade”, afirmou o porta-voz da Presidência, Otávio Santana do Rêgo Barros, em nota.
A desistência ocorre em meio à polêmica causada pela escolha de Bolsonaro para receber a homenagem. Na terça-feira, pelo menos três empresas que figuravam entre as patrocinadoras do evento retiraram seus apoios, entre elas estão a companhia aérea Delta, a consultoria Bain & Company e o jornal Financial Times.
Ativistas e políticos americanos vinham pressionando os patrocinadores do evento por causa do longo histórico de declarações homofóbicas e misóginas de Bolsonaro.
Depois da desistência de patrocinadores, o jornal Folha de S.Paulo divulgou nesta sexta-feira que o Banco do Brasil e o consulado-geral do país em Nova York se comprometeram em ajudar a financiar a homenagem. Essa seria a primeira vez que o banco participaria do evento como patrocinador.
Antes da saída dos patrocinadores, o evento já havia sofrido pelo menos dois reveses. Inicialmente, a cerimônia estava prevista para ocorrer em um espaço de eventos do Museu de História Natural de Nova York (AMNH).
Após pressão de ativistas e funcionários da instituição, que argumentaram que a homenagem seria “uma mancha na reputação do museu“, a direção da instituição decidiu revogar o aluguel do espaço. Neste caso também pesou a postura de Bolsonaro em relação à preservação do meio ambiente.
Antes de tomar a decisão final sobre o cancelamento, o museu chegou a afirmar em comunicado que havia alugado suas instalações “antes que o homenageado fosse conhecido”.
Depois disso, o restaurante Cipriani Hall, em Wall Street, se recusou a sediar o evento diante da pressão de críticos do presidente, entre eles o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que chamou Bolsonaro de “um ser humano muito perigoso” e afirmou que ele não era bem-vindo na cidade.
Por fim, os organizadores conseguiram alugar um espaço em um hotel da rede Marriott na Times Square. Mas, a rede hoteleira também foi alvo da pressão de ativistas e críticos do presidente.
Em uma carta enviada à direção da rede Marriott, o senador estadual democrata de Nova York Brad Hoylman pediu que a empresa reconsiderasse o aluguel do espaço, alegando que Bolsonaro é um “homofóbico perigoso e violento, que não merece uma plataforma pública de reconhecimento em nossa cidade”. “O único prêmio que Bolsonaro merece é o de ‘intolerante do ano'”, disse.
Em resposta à pressão, um porta-voz da rede afirmou que é “obrigada por lei a aceitar a transação mesmo quando isso entrar em conflito com nossos valores”. A rede é parte da Câmara Nacional de Comércio de Gays e Lésbicas dos EUA e patrocina o Centro Nacional para Direitos Lésbicos e seus executivos são conhecidos por defenderem publicamente causas LGBT.
Desde 1970, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos escolhe todos os anos duas personalidades para homenagear, uma americana e outra brasileira. A cerimônia de premiação ocorre durante um jantar de gala com a presença de cerca de mil convidados, com entradas a preço individual de 30 mil dólares.
No ano passado, os ganhadores da honraria oferecida pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos foram o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.