Brasil caminha para ter 200 mil mortes pelo coronavírus até outubro, diz especialista

António Lacerda / EPA

Na semana em que o Brasil deverá registrar 100 mil mortes pelo novo coronavírus, um especialista brasileiro indica que o país caminha para dobrar esse número em dois meses, atingindo 200 mil óbitos pela pandemia até outubro.

Para o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Domingos Alves, o nível de mortes do Brasil tende a seguir alto, caso nada mude nos próximos meses.

“Se as tendências atuais continuarem, devemos alcançar [200 mil mortes] em 15 ou 16 de outubro. Mas receio que possa ser ainda mais cedo, porque é provável que as curvas de infecção e fatalidade se acelerem nas próximas semanas. Se as coisas continuarem assim, teremos um alto nível de mortes diárias até que haja uma vacina”, declarou à Agência AFP.

O estatístico médico é um dos muitos críticos da política adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, acusando-o de “sacrificar o povo brasileiro” em nome de manter a economia em funcionamento. O problema de gestão ainda é, segundo ele, o principal problema contra COVID-19.

“O governo federal continua a considerar isso uma ‘gripezinha’ e não existe uma política nacional de combate à COVID-19. Governadores e prefeitos começaram a seguir a mesma direção, principalmente porque as eleições locais estão chegando em novembro. Os locais começaram a sair do bloqueio em junho, mas isso foi cedo demais, dado o alto número de novas infecções”, avaliou.

O coordenador da USP explicou que as taxas de infecção estão acelerando no interior, ao mesmo tempo em que diminuem nas capitais, ao mesmo tempo em que a situação vem piorando em nos estados que ainda não foram duramente atingidos, como as regiões Sul e Centro-Oeste.

“O número de casos confirmados ainda é muito menor que o número real – de seis a sete vezes menor, de acordo com nossos cálculos. No início da pandemia, era até 16 vezes menor. Mas isso não significa que nós conseguimos ter tudo sob controle. Os testes aumentaram, mas o Brasil continua sendo um dos países que menos realiza testes em todo o mundo”, disse.

Alves destacou também que “autoridades estão tentando fazer as pessoas acreditarem que podemos simplesmente aumentar o número de leitos de terapia intensiva”, embora o número de casos e de mortes sigam batendo recordes no país.

“Seu único objetivo é ter uma taxa de ocupação aceitável [em UTIs]. Eles podem permitir a reabertura de empresas. O plano é sacrificar o povo brasileiro para alcançar uma pseudo-recuperação econômica”, criticou ele, lembrando ainda como o governo Bolsonaro ignorou uma série de medidas indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“O Brasil rejeitou sistematicamente as medidas de bloqueio recomendadas pela OMS que trabalhou na Europa. Não há vontade política e a ciência ficou de lado em nosso país há muito tempo”, finalizou.

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …