Há histórias de pessoas que continuam a lutar pelos seus sonhos, sem desistir diante dos obstáculos em sua frente. E são ainda mais especiais quando elas contam a importância de ajudar o próximo. Luiz Felipe Xavier, de 20 anos, é o protagonista desta que contaremos. Ele é um capixaba que trabalha desde os nove anos de idade vendendo doces em Vitória, capital do Espírito Santo.
Aos 12 anos, um sonho muito forte nasceu em seu coração: viajar para os Estados Unidos. Sem condições de arcar com o sonho, ele começou a trabalhar dobrado para juntar dinheiro. “Comecei a vender trufas, balas, picolés, chup-chup de cachaça, empadas, caldos, terra de quintal, churrasco e também água e caneta em concurso público”, explica.
Apenas em 2015 o sonho se tornou realidade e ele embarcou para o país. Porém, Luiz se decepcionou por não conseguir ter aproveitado muito a viagem, já que não falava inglês. Ele então teve a ideia de voltar para o Brasil e investir em um intercâmbio.
Na época, ele procurou cursos de intercâmbio e viu que a despesa total ficaria em torno de R$ 40 mil. Foi então que ele teve a ideia de fazer um trabalho social em algum país africano de língua inglesa e assim unir duas coisas que ele sempre quis: ajudar os mais necessitados e também aprender o idioma.
Ele descobriu a World Child Care Vision, uma ONG que procura ajudar as crianças da Uganda em questões básicas, como levá-las para a escola, conseguir remédios e material escolar gratuitos e tirar bichos de seus pés (muito comum em locais onde é raro ver alguém com sapatos). Ela foi criada por um refugiado, Akeem Kafumba Maombi.
Luiz Felipe ganharia a hospedagem, mas teria que arcar com os demais gastos, como alimentação e passagem. Ele ainda está tentando conseguir levar doações como brinquedos e remédios.
Para conseguir arrecadar o dinheiro, além do trabalho de vender doces, ele teve uma ideia que também ajudaria o próximo, dessa vez no sentido de conscientizar as pessoas.
Luiz criou o projeto “O Menino das Cobras”. Com suas duas jiboias legalizadas, ele entrava nos ônibus da cidade vestido de índio e falava sobre conscientização ambiental, tráfico de animais, e a importância da valorização da nossa cultura.
Ele também aproveitava para explicar o seu sonho de ir para Uganda e pedia a contribuição dos passageiros. “Um dia uma moça no ônibus me perguntou por qual motivo eu precisava ir tão longe para ajudar as pessoas, sendo que tanta gente ao meu redor passava necessidades. Isso me fez parar pra pensar”, explica.
Foi daí que Luiz, não satisfeito em apenas ajudar futuramente as crianças na África, criou o projeto Vamos de bike?, em que, desde 2015, o capixaba leva comida de bicicleta para pessoas em situação de rua. “Atualmente, são 45 litros de sopa que eu coloco na minha bicicleta”, diz ele.
E no último dia 20 de junho, Dia do Refugiado, ele finalmemente conseguiu comprar sua passagem e embarca em breve para Uganda, onde ficará 10 meses cuidando de crianças.
Atualmente ele está fazendo uma “vakinha” online para comprar remédios, brinquedos e materiais de circo para as crianças em Uganda. Todo dinheiro arrecadado será usado para compra de materiais didáticos e remédios.
Futuramente ele também pretende abrir um instituto para que pessoas em situação de rua aprendam a cuidar de cães e gatos, com cursos como os de banho e tosa, facilitando a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho.
“Toda a minha vida agora é voltada para os meus projetos de ajudar as outras pessoas. Por exemplo, hoje eu não penso mais em ter um bom carro, uma casa. A minha maior ambição na vida é ver um mundinho um pouco melhor e mais justo”, conclui.