Quando somos crianças, uma das primeiras coisas que aprendemos na escola são os estados físicos da água: sólido, líquido e gasoso. Podemos passar a vida toda com esta certeza, mas, por incrível que possa parecer, não é bem assim.
Em junho do ano passado, uma equipe de cientistas suecos já tinha descoberto que a baixas temperaturas, a água pode se apresentar sob a forma de dois líquidos diferentes.
Este mês, cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, publicaram na revista Nature um estudo que detalha a recente descoberta da água superiônica – uma forma de água simultaneamente sólida e líquida, prevista por físicos teóricos há 30 anos e só agora observada de forma real.
Para entender do que se trata, é preciso começar pelo básico: a água é formada por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio – daí a famosa fórmula H2O. Normalmente, os átomos se agrupam em um formato de V, com o átomo de oxigênio se ligando aos dois de hidrogênio.
O gelo comum, que conhecemos e usamos no dia a dia, é conhecido como 1H, e as moléculas de H2O agrupam-se no formato de hexágonos. Mas há outras formas, que se estruturam de maneiras diferentes, dependendo da temperatura e da pressão no momento do congelamento. Os cientistas conhecem pelo menos 12.
Os cientistas do Lawrence Livermore usaram dois pedaços de diamante para comprimir uma certa quantidade de água em uma pressão de 25 mil quilogramas-força por centímetro quadrado, criando o gelo VII, cerca de 60% mais denso que a água comum e sólido à temperatura ambiente.
Depois disso, utilizaram um laser para provocar ondas de choque no gelo, elevando sua temperatura em milhares de graus centígrados e exercendo uma pressão de mais de 1 milhão de vezes a da atmosfera da Terra. O gelo superiônico se tornou líquido a uma temperatura de 4.700 graus Celsius.
Os cientistas acreditam que essa formação de gelo pode estar presente em diferentes planetas no Sistema Solar e fora dele, incluindo Netuno e Urano.
É possível que a descoberta ajude inclusive a explicar o comportamento do campo magnético desses planetas, cujas atmosferas têm constantes chuvas de diamantes.