Corpo humano “desliga” na Zona da Morte do Everest

O Monte Everest tornou-se notícia nesta semana após fotos de “engarrafamentos” no topo da montanha serem reveladas. Essa superlotação resultou na morte de pelo menos 11 pessoas na semana passada.

Essa informação e imagens de corpos de pessoas que tentaram escalar a montanha e permaneceram para sempre por lá, como mórbidos pontos de referência, levantam a questão: como e por que as pessoas morrem escalando montanhas – especialmente montanhas tão altas como o Everest?

A verdade é que o corpo humano não consegue funcionar corretamente acima de uma certa altitude. Nossos corpos foram feitos para viver no nível do mar, onde os níveis de oxigênio são adequados para nossos cérebros e pulmões.

Se os mais aventureiros entre nós quiserem escalar o Monte Everest, o pico mais alto do mundo, a 8.848 metros acima do nível do mar, eles terão que enfrentar o que é conhecido como “Zona da Morte” – a altitude acima de 8.000 metros, quando há tão pouco oxigênio que o corpo começa a morrer, minuto a minuto, célula por célula.

O portal Business Insider fez uma matéria a respeito do tema, conversando com especialistas para entender o que acontece com o corpo humano quando tentamos escalar a montanha mais alta do mundo. “Na Zona da Morte, os cérebros e os pulmões dos alpinistas estão famintos por oxigênio, o risco de ataque cardíaco e derrame aumenta, e a capacidade de julgamento e tomada de decisões rapidamente fica prejudicada. Ao nível do mar, o ar contém cerca de 21% de oxigênio. Mas quando os seres humanos alcançam altitudes acima de 3.500 metros – onde os níveis de oxigênio são 40% mais baixos – isso causa um grande impacto em nossos corpos”, afirma o texto.

Jeremy Windsor, médico que escalou o Everest em 2007 como parte da Expedição Caudwell Xtreme Everest, é citado no texto por ter dito a Mark Horrell, blogueiro que escreve sobre o Everest, que amostras de sangue de quatro montanhistas na Zona da Morte revelaram que eles estavam sobrevivendo com apenas um quarto do oxigênio necessário ao nível do mar. “Estes números eram comparáveis a aqueles encontrados em pacientes à beira da morte”, compara Windsor.

Sem ar

A 8 mil metros acima do nível do mar, o ar tem tão pouco oxigênio que, mesmo com tanques de ar suplementares, pode parecer “correr em uma esteira e respirar com um canudinho”, como descreve o montanhista e cineasta norte-americano David Breashears.

Essa falta de oxigênio tende a resultar em inúmeros riscos para a saúde. Quando a quantidade de oxigênio no sangue cai abaixo de um certo nível, a freqüência cardíaca sobe para 140 batimentos por minuto, aumentando o risco de um ataque cardíaco.

Os alpinistas precisam dar tempo aos seus corpos para se aclimatarem às condições no Himalaia antes de tentarem chegar ao cume do Everest. As expedições geralmente fazem pelo menos três viagens até a montanha a partir do Campo Base do Everest, que já fica a uma altura grande, cerca de 5.300 metros, subindo alguns milhares de metros a cada viagem, antes de atacar o topo.

Em condições adversas, nosso corpo se adapta. Ao longo de semanas, o corpo começa a produzir mais hemoglobina (a proteína dos glóbulos vermelhos que ajuda a transportar o oxigênio dos pulmões para o resto do corpo) a fim de compensar a mudança de altitude. Mas o excesso de hemoglobina pode engrossar o sangue, tornando mais difícil para o coração bombeá-lo pelo corpo. Isso pode levar a um derrame ou um acúmulo de líquido nos pulmões, uma condição chamada de edema pulmonar de altitude (HAPE).

Os sintomas incluem fadiga, sensação de sufocação iminente à noite, fraqueza e tosse persistente, provocando líquido branco, aquoso ou espumoso. Às vezes a tosse é tão grave que quebra ou separa as costelas. Os alpinistas com HAPE têm sempre falta de ar, mesmo quando estão em repouso.

Na Zona da Morte, o cérebro pode começar a inchar devido à falta de oxigênio, causando o edema cerebral de alta altitude (HACE), que é o HAPE para o cérebro. Esse inchaço pode desencadear náuseas, vômitos e dificuldade para pensar e raciocinar.

Um dos maiores fatores de risco a 8 mil metros é a hipóxia, falta de circulação adequada de oxigênio em órgãos como o cérebro. Isso porque a aclimatação às altitudes da Zona da Morte não é possível, segundo o especialista em altitude e médico Peter Hackett, em entrevista à rede americana PBS.

Um cérebro com falta de oxigênio significa que os escaladores às vezes esquecem onde estão, entrando em um delírio que alguns especialistas consideram uma forma de psicose de alta altitude. O julgamento dos alpinistas hipóxicos fica prejudicado, e eles são conhecidos por fazer coisas estranhas, como começar a se despir ou conversar com amigos imaginários. Outros possíveis perigos incluem perda de apetite, cegueira da neve e vômito

Julgamentos prejudicados e falta de ar não são as únicas coisas com as quais os alpinistas de alta altitude precisam se preocupar. “Os humanos começam a se deteriorar”, acrescenta Hackett. “Dormir se torna um problema. A perda muscular ocorre. Perda de peso acontece.”

Náuseas e vômitos causados por HAPE e HACE podem causar uma diminuição no apetite. O brilho da neve e do gelo sem fim pode causar cegueira da neve – perda temporária de visão ou explosão de vasos sangüíneos nos olhos. Alguns alpinistas são feridos ou perecem pelos resultados indiretos desses problemas de saúde em grandes altitudes. O enfraquecimento físico e a visão prejudicada podem levar a quedas acidentais.

A tomada de decisão incorreta – por exaustão ou falta de oxigênio – pode significar o esquecimento de recuar em uma corda de segurança, ou desviar-se da rota, ou deixar de preparar adequadamente equipamentos salva-vidas, como tanques suplementares de oxigênio.

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