Novas evidências científicas indicam que as mudanças climáticas estão se acentuando e estamos ficando sem tempo para arrumar uma solução e evitar uma catástrofe.
Mas não se desespere ainda. De acordo com um novo estudo, podemos limitar o impacto do aquecimento global, da escassez de água e da poluição mudando nossos modelos de produção e consumo de alimentos e nos tornando “flexitarianos”, .
Para reverter o impacto negativo e alcançar um futuro sustentável, o desperdício de alimentos precisará ser reduzido, até 2050, pela metade, e as práticas agrícolas terão de melhorar, assim como a nossa alimentação. Adotar uma dieta flexitariana também é um passo fundamental para alcançar esse objetivo, sugerem os cientistas.
Ser flexitariano significa comer principalmente alimentos de origem vegetal – como frutas, verduras, legumes, grãos, nozes e produtos de soja – mas não exclusivamente isso.
Carnes podem ser consumidas ocasionalmente – é por isso que o flexitarianismo também tem sido chamado de “vegetarianismo casual“, e está se tornando cada vez mais popular – mas isso significa uma grande redução em relação ao que entra no prato atualmente.
De acordo com os pesquisadores, no caso da carne bovina é preciso haver uma redução de consumo da ordem de 73%. Para a carne de porco, seriam quase 90% a menos. Isso reduziria pela metade as emissões de gases de efeito-estufa da pecuária – e uma melhor gestão das fezes desses animais permitiria uma diminuição ainda maior.
Impactos da dieta “flexitariana”
O estudo, publicado esta semana na revista Nature, mostra uma lista com 25 produtos e, desse total, 12 têm a ampliação do consumo recomendada. Além de feijão, nozes e sementes, há, por exemplo, mais soja, óleos vegetais, frutas e peixes.
Por outro lado, prevê grandes reduções nos volumes também de ovos, arroz, açúcar, trigo, raízes, milho, azeite de oliva, leite e aves.
A ideia é reduzir o impacto de sistemas de produção que geram maiores danos ambientais – porque emitem mais gases de efeito-estufa, como a pecuária, que fornece carne, leite e ovos, desmatamento ou escassez de água em culturas agrícolas – por outros menos “ambientalmente intensivos”.
Os pesquisadores descobriram que uma mudança global para esse tipo de dieta é necessária para manter a mudança climática abaixo de 2ºC, se não de 1,5ºC – que é a meta atualmente estabelecida Além disso, segundo os cientistas, ser flexitariano pode melhorar a saúde e ajudar a economizar dinheiro.
Essa dieta defende a adição de uma maior variedade de alimentos às refeições, o que pode ser extremamente benéfico para a saúde. A nutricionista britânica Emer Delaney aconselha a escolha de alimentos de origem vegetal que sejam boas fontes de proteína, como lentilhas, feijões, ervilhas, nozes e sementes.
A fibra solúvel encontrada em lentilhas e feijões também ajuda a combater o colesterol alto. Nozes e sementes – como linhaça, pinhões, sementes de gergelim e sementes de girassol – são ricos em gorduras poliinsaturadas, que ajudam a manter os níveis de colesterol saudáveis e fornecem ácidos graxos essenciais.
Além disso, a pesquisa mostrou que a combinação de atividade física regular com uma dieta flexível pode promover um estilo de vida de acordo com as recomendações para reduzir os riscos de câncer de mama e de próstata.
Quais são as carnes mais saudáveis para incluir?
Carnes magras de boa qualidade, como frango ou peru, são melhores para a dieta.
Carnes processadas – como bacon, salsichas, salame, presunto e patês – devem ser consumidas esporadicamente, pois são ricas em gordura saturada e sal, e fornecem poucas vitaminas e minerais.
De acordo com pesquisa da Organização Mundial de Saúde, comer 50g de carne processada todos os dias pode aumentar o risco de câncer colorretal, aquele que acomete um segmento do intestino grosso (o cólon) e o reto.
A recomendação de especialistas é incluir alimentos à base de plantas em todas as refeições – pelo menos cinco porções de frutas e vegetais por dia e alimentos integrais. Como o consumo de carne vermelha está sendo reduzido, é preciso assegurar que você vá ingerir ferro o suficiente.
Boas fontes alternativas são cereais matinais enriquecidos com ferro e vegetais verde-escuros – como espinafre, repolho, couve e brócolis. Vale a pena saber que a vitamina C aumenta a absorção de ferro, por isso é recomendável também comer pimentões, alface e tomate, ou tentar beber um copo pequeno (150ml) de suco de frutas.
Por que os cientistas estão tão preocupados?
Os autores do estudo dizem que se quisermos parar de prejudicar o planeta e ter uma fonte sustentável de alimentos para o futuro, é urgente mudar. O desperdício de alimentos tem de ser cortado pela metade e as práticas agrícolas precisam melhorar e se tornar mais eficientes.
A forma como os alimentos são produzidos atualmente tem uma série de impactos ambientais significativos. Ela se tornou um impulsionador das mudanças climáticas, esgotando a água doce e contribuindo para a poluição por meio do uso excessivo de nitrogênio e fósforo.
O estudo diz que, levando em conta o crescimento da população e da renda esperado entre 2010 e 2050, esses impactos podem aumentar entre 50% e 90%. Isso poderia pressionar o planeta além de seu limite, que os autores dizem representar um “espaço operacional seguro para a humanidade em um sistema estável da Terra”.
// BBC