Dinheiro vivo está em vias de extinção na Holanda e Suécia

Em tempos de turbulência econômica, não é de se espantar que algumas pessoas prefiram guardar seu dinheiro à moda antiga: em espécie, em algum cofre ou em algum esconderijo. Pelo menos até a tempestade passar.

Mas em alguns países do mundo, como a Holanda, o dinheiro em espécie está praticamente em vias de extinção – a ponto de alguns estabelecimentos simplesmente recusarem cédulas ou moedas.

Da badalada rede de lojas de comida natural Marqt à padaria do bairro, todos preferem receber pagamentos em cartão de débito ou crédito. Alguns dos varejistas chegam a definir essa prática como “mais limpa” e “mais segura”.

A jornalista Lauren Comiteau, da BBC, fez uma experiência: deixou o cartão em casa e tentou ver até onde poderia chegar com um punhado de dinheiro vivo em Amsterdã.

Espanto e resistência

Como era de se esperar, Comiteau foi recebida com expressões de espanto e com resistência quando quis pagar seu aluguel em dinheiro. “Não me lembro da última vez que recebemos pagamento em dinheiro”, conta Marielle Groentjes, contadora da imobiliária que administra seu apartamento, há dez anos no cargo.

Não gostamos de ter dinheiro aqui na agência. Não temos cofre e os bancos nos cobram para fazer um depósito”, explica Groentjes.

Mas são itens menores e mais baratos que dão mais dor de cabeça. Quando não foi impedida de fazer compras em lojas que só aceitam cartões, Comiteau foi obrigada a ficar em uma fila enorme de pessoas pagando em dinheiro, enquanto outras resolveram suas vidas rapidamente nos caixas automáticos.

Os euros no bolso da jornalista não servem nem comprar um sanduíche, nem para estacionar o carro em Amsterdã.

“Sim, o dinheiro em espécie é um dinossauro, mas ele ainda não vai ser extinto”, afirma Michiel van Doeveren, conselheiro sênior no Banco Central holandês, o DNB.

Segundo ele, é a logística que está encarecendo as transações em dinheiro, uma vez que ele precisa ser transportado, vigiado, contado e registrado. “É importante que a economia eletrônica ganhe mais espaço porque queremos adotar pagamentos mais eficientes.”

Como ganhar mais

Os pagamentos eletrônicos nas lojas e supermercados da Holanda ultrapassaram as transações em dinheiro pela primeira vez em 2015, por uma margem estreita: 50% delas em cartões de débito, 49,5% em dinheiro e 0,5% em cartões de crédito.

Um movimento conduzido por um grupo de bancos e varejistas holandeses quer que essa proporção suba para 60%-40% até 2018. Eles argumentam que pagamentos eletrônicos são mais baratos, mais seguros e mais convenientes.

Assim como a Holanda e seus vizinhos na Escandinávia, a Suécia está entre os primeiros na corrida pela erradicação do dinheiro vivo.

Mas nem todo o mundo simpatiza com a ideia.

“Trata-se de um problema enorme. Para pequenas empresas, é muito caro depositar dinheiro no banco”, afirma Guido Carinci, diretor da associação de pequenos empresários TOMER. Ele diz que tem que pagar uma taxa de 300 coroas suecas por mês (cerca de R$ 120) para uma empresa que está autorizada a fazer depósitos em sua conta.

Segundo ele, os bancos lucram bastante com a cobrança de taxas sobre transações eletrônicas, enquanto não faturam com o dinheiro vivo. Isso tira o incentivo para que eles aceitem cédulas ou moedas.

Muitas lojas suecas já despacharam suas caixas registradoras, incluindo a gigante das telecomunicações Telia, cujas 86 filiais pararam de aceitar dinheiro vivo em 2013.

Os ônibus suecos já não aceitam pagamento em dinheiro há vários anos. E até os sem-tetos que vendem revistas na rua aceitam receber em cartão ou através de aplicativos de celular.

O problema se tornou tão grave que a maioria dos suecos enfrentam o dilema de o que fazer com a pilha de notas que os bancos não querem. Alguns estão até recorrendo a guardar tudo “embaixo do colchão”, segundo Bjorn Eriksson, diretor da empresa de segurança Säkerhetsbranschen.

Laços culturais

Apesar disso, as atitudes variam bastante dentro da Europa e em outras regiões do mundo. Algumas culturas relutam firmemente em desistir do dinheiro em espécie.

É o caso, por exemplo, da Alemanha, cujos consumidores acreditam que o dinheiro vivo os ajuda a controlar melhor seus gastos, segundo um estudo realizado recentemente pelo Banco Central alemão.

Na superpotência da Europa, mais de 75% dos pagamentos ainda são feitos em dinheiro. A Itália é ainda menos adepta das transações eletrônicas, com 83% dos pagamentos em dinheiro.

E por mais que os americanos adorem suas notas verdinhas, o país está começando a viver um movimento no sentido de se tornar mais eletrônico. No ano passado, eles adotaram cartões de crédito com chip – uma década depois de muitos países europeus.

Em janeiro passado, várias filiais da rede de lanchonetes Sweetgreen pararam de aceitar dinheiro vivo, inclusive em sua loja em Wall Street, onde a maioria dos jovens executivos usam aplicativos de “carteira” em seus celulares, como o Apple Pay, por exemplo.

Os avanços na tecnologia móvel também está mudando costumes em alguns países da África. No Quênia e na Tanzânia, o serviço digital M-Pesa permite que milhões de pessoas hoje paguem suas contas, cobrem seus salários e realizem pequenas transações em mercados locais através de suas contas em seus celulares.

// BBC

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