O presidente Michel Temer foi gravado por um dos proprietários da JBS, Joesley Batista, autorizando a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, preso por participar do escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava Jato, afirmou nesta quarta-feira o jornal “O Globo”.
Na frente de Joesley Batista, Temer indicou o deputado Rodrigo Rocha (PMDB-PR) para resolver um problema da holding J&F Investimentos, que controla a JBS, segundo O Globo. Posteriormente, Rocha foi filmado recebendo uma maleta com R$ 500 mil enviados pelo proprietário da JBS.
Nesse encontro, Michel Temer também ouviu do empresário que Joesley fazia pagamentos mensais a Cunha na prisão para que o ex-presidente da Câmara dos Deputados permanecesse em silêncio.
Segundo O Globo, com base na gravação, Temer disse: “Tem que manter isso, viu?”
O jornal O Globo informa que Joesley Batista e seu irmão, Wesley, proprietários da JBS, tentam fechar um acordo de delação premiada com a Justiça como já fizeram 77 ex-diretores do grupo Odebrecht, também envolvido no escândalo da Lava Jato.
Temer já foi citado em vários dos depoimentos dados pelos ex-diretores da Odebrecht, mas a lei impede que o presidente seja investigado por fatos ocorridos antes de seu mandato.
Em outra das gravações feita pelos irmãos Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi registrado pedindo R$ 2 milhões. O dinheiro foi entregue a um primo do ex-candidato à presidência derrotado nas últimas eleições em um jantar que foi filmado pela Polícia Federal.
O dinheiro foi rastreado e localizado em uma empresa do senador Zezé Perrella, do mesmo partido de Aécio Neves.
Joesley Batista relatou que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, também investigado na Lava Jato, era seu contato no PT. Segundo o empresário, com Mantega eram negociados as propinas distribuídas aos petistas e aos aliados dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Além disso, Joesley revelou que pagou R$ 5 milhões a Eduardo Cunha depois que o ex-deputado foi preso. O empresário ainda devia R$ 20 milhões a Cunha pela tramitação de uma lei de incentivo fiscal para o setor de frango.
Nota do planalto
Em nota divulgada pelo Planalto ontem, o presidente Michel Temer confirmou que esteve com o empresário da JBS, mas que “jamais” tentou evitar a delação de Eduardo Cunha.
“O presidente Michel Temer jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar”, diz trecho da nota.
“O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República”, acrescenta a assessoria de Temer.
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