Elétrons são flagrados desaparecendo e reaparecendo entre camadas atômicas

Cientistas encontraram uma movimentação quântica muito estranha em elétrons que viajam entre camadas atômicas de três materiais. Ao invés de viajar da camada superior para a menor inferior pela camada intermediária, os elétrons simplesmente desapareciam da primeira e passavam diretamente para a terceira, sem passar pela segunda.

Este fenômeno bizarro poderia ser usado para criar novos materiais van der Waals, que combinam nanomateriais únicos para produzir novas propriedades úteis. Espera-se que no futuro eles estejam presentes nos eletrônicos e células solares.

“Van der Waals” é a força que permite que lagartixas andem nas paredes, batizada em homenagem ao cientista holandês Johannes Diderik van der Waals. Mas ela também descreve qualquer tipo de forças atrativas entre moléculas que não acontecem na tradicional forma de ligações iônicas ou covalentes.

De forma muito simples, a força de van der Waals é o resultado das atrações mecânicas entre partículas, ao invés da atração comum entre partículas positivas e negativas.

Há poucos anos, cientistas começaram a usar essas forças para criar novos materiais ao empilhar estruturas 2D diferentes sem ligações normais. Até agora, sabe-se muito pouco sobre como elétrons viajam através desses materiais van de Waals, e como resultado, quão úteis eles são para aplicações eletrônicas.

O experimento

Para descobrir isso, pesquisadores fizeram experimentos com materiais formados por três camadas 2D que se unem por atrações van der Waals.

As três camadas testadas foram MoS2 (dissulfeto de molibdênio), WS2 (sulfereto de tungstênio) e MoSe2 (seleneto de molibdênio), todos materiais semicondutores, o que significa que eles conseguem conduzir elétrons sem resistência.

Além disso, todos eles respondem à luz com cores diferentes. Isso significa que os pesquisadores podem usar lasers com cores diferentes para atingir apenas elétrons em cada uma das três camadas, sem interferir nas outras. Isso garantiu que eles pudessem acompanhar para onde os elétrons viajam no material.

Para colocar os elétrons em movimento, os pesquisadores usaram pulsos ultra-curtos de laser de apenas 100 femtossegundos (um milionésimo de um bilionésimo de segundo) para liberar elétrons da camada de MoS2, para que eles pudessem se mover livremente.

“A cor do pulso de laser foi escolhida para que apenas os elétrons da camada superior fossem liberados”, descreve o pesquisador principal, Hui Zhao, da Universidade de Kansas (EUA).

“Depois usamos outro pulso de laser com a cor certa para a camada inferior de MoS2, para detectar a aparição desses elétrons nesta camada. O segundo pulso foi arranjado para chegar na amostra 1 picossegundo depois do primeiro pulso”, explica ele. Um picossegundo é cerca de mil femtossegundos.

A equipe percebeu então que os elétrons se moviam da camada superior para a camada inferior em apenas 1 picossegundo. Para descobrir como eles estavam chegando lá tão rapidamente, eles usaram um terceiro pulso de laser com outra cor para monitorar a camada central.

O resultado foi que nenhum elétron passou por ali, desafiando a física tradicional.

“Se esses elétrons seguissem o ‘senso comum’ como as partículas clássicas fazem, eles deveriam passar pela camada do meio em algum momento neste picossegundo”, diz Zhao.

Para confirmar que não houve nenhum erro no experimento, o procedimento foi repetido em outro laboratório, por outra equipe, na Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA). Os resultados foram exatamente iguais.

Isso é uma evidência de que este é um fenômeno quântico que permite que elétrons viajem entre camadas atômicas conectadas por forças de van der Waals.

Este é um ótimo sinal de que materiais van der Waals podem revolucionar os eletrônicos e o desenvolvimento de novos materiais.

A pesquisa foi publicada na revista Nano Letters.

 

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …