Uma empresa que diz desenvolver tecnologias inovadoras e cujo valor estimado equivale a 15% do PIB de Portugal tornou-se um mistério para jornalistas e economistas portugueses, que tentam investigar suas atividades e descobrir como ela passou despercebida apesar de sua magnitude.
Segundo a imprensa de Portugal, a história da empresa, chamada “Yupido“, conta com os ingredientes de um “thriller econômico”: descoberta por um professor universitário que prefere não revelar sua identidade, foi criada em 2015 com um capital social de 243 milhões de euros; agora vale 29 bilhões, 15% do PIB português.
O altíssimo valor e outros detalhes, como o fato de a empresa ter como sede alguns escritórios em Lisboa nos quais ninguém parece trabalhar, chamaram a atenção inclusive da Polícia Judiciária (PJ) portuguesa.
Enquanto a PJ observa tudo o que gira em torno do mistério, que ganha cada vez mais destaque na imprensa, as perguntas só aumentaram após a renúncia do auditor oficial de contas, José Rito, que investigava o caso.
Segundo o jornal “Diário de Notícias”, Rito deixou o cargo porque não se considera “satisfeito” com a análise anterior de um auditor independente que, com décadas de experiência, aprovou o espetacular aumento de valor da empresa.
Tampouco o convencem os dados apresentados pela administração da “Yupido”, sobre a qual expressou sem reservas seu descontentamento. “A administração não me deu nenhuma informação objetiva que justifique o seu valor”, afirmou taxativamente o auditor.
A saída de Rito é o último capítulo de um caso estranho sobre o qual foi levantado todo o tipo de especulação na imprensa, perplexa pelo desconhecimento de uma companhia cujo valor supera o de gigantes do país, como a de energia elétrica EDP e a petrolífera Galp.
As explicações parciais oferecidas recentemente por Francisco Mendes, porta-voz da empresa, pouco esclareceram o caso, algo que ele mesmo justificou com a necessidade de proteger a ideia “inovadora” na qual trabalham há meses.
“Esta não é uma empresa fantasma. Nunca foi. Existimos, somos pessoas, trabalhamos diariamente de forma árdua e não queremos ver o nosso trabalho assim”, disse Mendes ao jornal digital “ECO”.
O porta-voz afirma que a “Yupido” está disponível para esclarecer qualquer assunto à PJ porque suas atividades estiveram sempre dentro da legalidade.
“Apareceram coisas grotescas na imprensa, como lavagem de dinheiro“, lamenta Mendes, afirmando que no momento a empresa não pode divulgar muitas informações sobre seus projetos porque “outros competidores verão o que está sendo feito”.
Segundo sua versão, a companhia portuguesa trabalha atualmente em “42 patentes” de tecnologias inovadoras sobre as quais se recusa a dar mais detalhes. “Não posso descrever algoritmos na imprensa, porque isso põe em risco o nosso trabalho”, acrescentou o porta-voz para justificar o mistério em torno da companhia.
No entanto, Francisco Mendes esclarece que existe uma força de trabalho e que a valorização multimilionária da “Yupido” não corresponde a dinheiro em espécie, mas a ativos intangíveis, que impulsionaram de forma espetacular o valor da empresa.
Apesar da área de atuação diversificada, o volume de vendas em 2015 e 2016 é nulo. A Yupido registou, em 2015 e 2016, um volume de vendas igual a zero, tendo, no ano passado, registado perdas que chegaram aos 21 570 euros.
Para o advogado Luís Miguel Henrique, especialista em direito fiscal, direito financeiro, fusões e aquisições, o caso da Yupido “não é normal. E, olhando meramente para os dados contabilísticos que surgem na imprensa, não só não é normal como não faz sentido. Posto isto, tudo o resto é meramente especulativo“.
“Podem existir todas as razões legítimas, legais e até lógicas que nós não conhecemos”, sublinha. Mas aponta que os dados já divulgados podem configurar um caso de branqueamento de capitais em potência.
“Por exemplo, se me cair uma transferência de 500 milhões na conta, isso vai acender as luzes do Banco de Portugal. Se eu tiver uma escritura pública a indicar que vendi uma quota de capital social certificado, isso serve de esclarecimento”.
A “Yupido” esclareceu que, “no momento adequado”, divulgará seus projetos “revolucionários”, como considera a imprensa portuguesa, dado o seu valor e o caráter secreto com que continua trabalhando neles.
// EFE