Filme sobre Clara Nunes estreia com protesto contra intolerância religiosa

(dv)

Clara Nunes

De cantora de bolero no interior de Minas Gerais a diva do samba no Rio de Janeiro, Clara Nunes se imortalizou como uma das maiores artistas brasileiras. De vestido branco, com sua cabeleireira vasta e tiaras de conchas e flores na cabeça, ela própria narra sua história no documentário Clara Estrela, dos realizadores Susanna Lira e Rodrigo Alzugui.

Feito com imagens de arquivo, o longa-metragem estreou nesta segunda-feira (9) no Festival do Rio. A mostra de cinema exibirá 250 filmes até o próximo domingo (15).

O documentário é resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e traz cenas inéditas, como a apresentação da cantora na Suécia, na década de 1970. Em outras passagens, Clara Nunes revela suas raízes, desde sua saída de Paraopeba – cidade próxima a Belo Horizonte – até se tornar intérprete de compositores como Cartola.

Ela também narra a influência das religiões afro em sua obra. O compositor Candeia, aliás, é autor de O mar serenou, uma das músicas mais executadas de Clara até hoje, passados mais de 30 anos de sua morte. Clara faleceu prematuramente, por uma complicação após uma cirurgia de varizes.

Para a estreia, a produção do filme pediu que espectadores comparecessem vestidos de branco para um protesto contra a intolerância religiosa, um tema relevante para Clara Nunes, que era umbandista.

Primeira pessoa

A direção optou por um documentário em primeira pessoa, sem entrevistas com artistas contemporâneos ou biógrafos. A diretora Susanna Lira explicou que, diante do vasto acervo audiovisual, seria importante deixar a própria se apresentar, sobretudo às novas gerações.

“Achamos que, primeiro, íamos dar voz a uma pessoa que morreu há três décadas, da forma mais próxima a que ela usaria para contar a própria história”, disse. “Se alguns fatos [sobre sua vida] não estão no filme é porque ela não mencionou, então [não queria falar sobre isso], a gente não colocou. O resultado é bem poético”, define.

Quando não é a própria Clara quem comenta sua vida em inúmeras entrevistas dadas a emissoras de TV e rádio ao longo dos anos, a atriz Dira Paes é quem interpreta a cantora em alguns trechos.

A escolha de Dira foi feita para dar ainda mais peso à brasilidade da cantora, explicou Susanna Lira. “Clara representava essa mulher que vinha do interior para a cidade grande, o que é o caso da própria Dira, que tem uma trajetória semelhante, por ter vindo do Pará”, justificou.

Apesar do vasto material disponível, Clara Nunes, que rompeu paradigmas na indústria fonográfica e chegou a vender mais de 100 mil cópias, não tinha sido retratada em um documentário até hoje. Para os realizadores, essa foi também uma oportunidade de misturar passado e presente.

Susanna conta que o que mais a surpreendeu fazendo o filme foi perceber o quanto Clara Nunes é atual. “Já naquela época ela falava sobre empoderamento da mulher, a importância da mulher trabalhar, ser independente, sobre intolerância religiosa, sobre o respeito à fé do outro”, destacou.

 

Ciberia // Agência Brasil

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1 COMENTÁRIO

  1. Quando uma pessoa se dá o direito de divulgar suas convicções religiosas e de tentar convencer os outros a aderir, está passando a mensagem nas entrelinhas de que as suas convicções são melhores do que as dos ouvintes. Isso significa, então, que eu tenho todo o direito de dizer que essa pessoa está enganada, pois eu considero as minhas convicções melhores do que as dela.
    No caso da Clara Nunes, seus defensores estão tentando dizer que ela está coberta de razão e que os que não concordam com o seu pragmatismo religioso estão errados. É isso mesmo?
    Quer dizer, então, que, quem pode falar alto tem razão e quem não pode deve ficar calado, pois suas convicções foram abafadas por quem fala mais alto?
    Julguem vocês mesmos esse sistema hipócrita de tentar combater intolerância religiosa com intolerância religiosa disfarçada de coisa politicamente correta.
    Clara Nunes eram umbandista convicta? E você é cristão convicto? Você tem tanto direito de dizer que ela estava errada quanto ela tinha de cantar, direta ou indiretamente, que você está errado.
    E que se calem esses hipócritas, cineastas ou não!

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