Três dias depois do anúncio da premiação, governo das Filipinas dá os parabéns à jornalista, uma das principais críticas de Rodrigo Duterte e sua guerra contra o narcotráfico.
Três dias depois do anúncio do Comitê do Nobel de Oslo, o governo das Filipinas rompeu o silêncio sobre o primeiro Prêmio Nobel dado a uma pessoa filipina e deu os parabéns nesta segunda-feira (11/10) à jornalista Maria Ressa.
“Felicitamos Maria Ressa por ser o primeiro filipino a vencer o Prêmio Nobel da Paz”, afirmou o porta-voz do governo. “É uma vitória para uma filipina e estamos muito felizes por isso.”
A felicitação foi logo seguida por uma ressalva. “Mas, claro, é verdade de que há indivíduos que acham que Maria Ressa ainda têm de limpar o seu nome diante das nossas cortes”, acrescentou o porta-voz, lembrando que ela já foi condenada e enfrenta outros processos judiciais.
Foco na guerra contra o narcotráfico
Ressa, de 58 anos, compartilhou o Prêmio Nobel da Paz de 2021 com o jornalista russo Dmitri Muratov. Ela foi logo felicitada por vários governos e por representantes da sociedade filipina, mas o presidente Rodrigo Duterte se absteve de qualquer comentário.
O único comentário por parte do governo filipino havia sido do ministro do Exterior, Teddy Locsin, que na rede social Twitter felicitou Ressa, comentando que “uma vitória é uma vitória”, mas ressalvou que a ex-presidente filipina Cory Aquino também teria merecido o Nobel da Paz por liderar o movimento pró-democracia durante os anos 1980.
Ressa destacou-se por investigar a guerra contra o narcotráfico iniciada por Duterte quando ele chegou ao poder, em 2016. A campanha já deixou milhares de mortos em operações policiais e execuções extrajudiciais e está sendo investigada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por suspeita de crimes contra a Humanidade.
Processos judiciais
A jornalista é uma das co-fundadoras do site de notícias Rappler, criado em 2012, e tem também trabalhado para combater as notícias falsas e a desinformação em redes sociais como o Facebook, em grande parte atribuídas a contas relacionadas a Duterte.
Críticos do governo afirmam que a atuação dela é o verdadeiro motivo dos processos que ela responde na Justiça das Filipinas, com processos que podem acarretar vários anos de prisão.
“O Nobel da Paz colocou luz em como os perigos para exercer nossa profissão, não apenas nas Filipinas, mas em todo o mundo, aumentaram”, afirmou Ressa após a divulgação, na sexta-feira.
“O prêmio dá um alento aos jornalistas. Agora, podemos respirar e seguir adiante, com coragem, para contar nossas histórias”, completou.
Ressa e Muratov receberam a distinção pelos seus esforços em defesa da liberdade de expressão, um pré-requisito para a democracia e a paz duradoura, afirmou a presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen.
Com a escolha, o Comitê do Nobel quis destacar a importância da proteção das liberdades de expressão e de imprensa. Os dois laureados são “representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa lutam contra condições cada vez mais adversas“, destacou a instituição.