“Original” é uma palavra que define bem o tabloide do senhor Santino França, de 61 anos. Mas também poderíamos usar a palavra “ousado”. Afinal, produzir um jornal feito à mão, em tempos de internet, é tarefa para as mentes mais ousadas.
O jornal mensal Itapercanjo – o nome é uma homenagem às cidades de Itapetininga e São Miguel Arcanjo, no interior paulista, onde Santino morou – está em sua 513ª edição. As informações são do G1.
Cada edição tem 30 páginas: preenchidas com notícias sobre o trânsito, política, histórias de personalidades, fofocas e desenhos para crianças. Conteúdo diversificado e para todos os públicos.
O que mais chama a atenção é que Santino estudou apenas até a quarta série. Ele saiu de casa na adolescência, trabalhou no circo e – bingo! – ganhou na loteria na década de 1980. A vida parecia melhorar, porém Santino gastou todo o dinheiro que ganhou com os “prazeres da vida”.
Para piorar a situação, em um curto espaço de tempo, ele pegou pneumonia e teve tuberculose, quase levando-o à morte. Isso aconteceu entre 1999 e 2000, ano de fundação do Itapercanjo. Segundo Santino, foi o jornal salvou sua vida.
“Sou grato a ele e nunca vou deixar de fazê-lo”, afirma Santino, que tem a energia e os sonhos de um estudante de jornalismo recém-formado. “Com a doença não conseguia arrumar emprego de jeito nenhum. Foi aí que tive a ideia de fazer o tabloide e, por sorte, todo mundo gostou”, contou ao portal de notícias da Globo.
Santino, que já trabalhou como pedreiro e ajudante de serviços gerais, é leitor voraz: lê de tudo, da Bíblia a revistas, até histórias em quadrinhos. A estética do jornal lembra os cordéis nordestinos, de onde Santino buscou inspiração para o tabloide.
Pai de dois filhos, que ele não vê há 30 anos, o idoso garante que o jornal não vai se curvar à internet. “Eu coloquei o Itapercanjo na internet, mas ninguém quer ler pela internet. Não tem graça. Querem pegar na mão”, afirma.
O jornal é distribuído primeiro nas 30 lojas que o apoiam financeiramente, nas cidades de Itapetininga, Sorocaba, Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo. Depois, o jornal feito à mão é disponibilizado para o público em geral. São distribuídas 3 mil cópias – 2 mil coloridas, pagas, e 1000 em preto e branco, gratuitas.
O projeto rende para Santino, em média, um salário mínimo – a única fonte de renda do idoso.
Ciberia // Razões para Acreditar