A cuidadora Glaucia Andressa Santos Gomes, de 29 anos adotou uma senhora que morava há 50 anos em um hospital de Araraquara, no interior de São Paulo.
Dona Cotinha vivia no Hospital Beneficência Portuguesa e depois do fechamento dele, iria para um abrigo. Só que Glaucia, que trabalhava no mesmo hospital, mesmo após o desemprego, não abandonou a vovó. A cuidadora prometeu cuidar dela para o resto da vida.
Glaucia descobriu que a idosa tinha chegado ao hospital ainda criança, junto como irmãozinho de 4 anos, que chegou morto. Os dois tinham sido atropelados por caminhão.
“O pessoal fala que foi um acidente perto do [bairro] Quitandinha. Falam que quando ocorreu o acidente ali ainda não tinha o pontilhão que tem hoje. Como o pontilhão tem em torno de 50 anos, a gente acredita que ela tem entre 62 e 65 anos”, disse Glaucia ao G1.
“Dizem ainda que ela ficou seis anos enfaixada, internada no hospital, período que teria sofrido muitas dores”, completou.
Com o tempo, a idosa, cuidada por freiras, passou a ajudá-las no hospital. O local foi privatizado e só Cotinha ficou por lá. Por muito tempo ela morou em um quarto ao lado da lavanderia, onde trabalhava passando e dobrando roupas.
Depois, os funcionários pediram para que ela fosse transferida, devido aos seus problemas respiratórios que eram agravados pela umidade da lavanderia. Ela, então, foi para a cozinha, onde limpava mesas e guardava utensílios. Foi lá que Glaucia a conheceu. “Eu vi aquela senhora limpando mesas e achei que fosse mais uma funcionária”, conta.
Além de Glaucia, outros funcionários se importavam e cuidavam de Cotinha e a levavam para passar o fim de semana em casa. Também saíam com ela para tomar um sorvete, ou comprar roupas.
Desemprego e adoção
Em 2016, com o fechamento do hospital, cerca de 300 funcionários foram para a rua e a situação de Cotinha foi denunciada. A polícia levou a idosa para uma casa que abriga mulheres vítimas de violência. Preocupada, Glaucia procurou as autoridades e antigos chefes do hospital para descobrir o paradeiro de Cotinha.
“Quando o hospital fechou, eu entrei em desespero e falei: ‘não posso abandonar a Cota. Se faço isso agora, ela vai ficar ao Deus dará. Não vai ter alguém para cuidar dela. Eu fui mais na emoção, não pensei no dia de amanhã. Eu pensei que ia pegar, ela ia ficar comigo um tempo e depois a gente ia voltar para Beneficência. Ela ia voltar para o cantinho dela, eu ia voltar a trabalhar”, contou Glaucia.
Agora, ela tenta tirar documentos para a mulher que tem apenas uma certidão na qual recebeu o nome de “Maria de Tal” e tem origem desconhecida.
Glaucia acolheu Cotinha em sua casa, que é alugada. A família não conta com muitos recursos. O marido trabalha como mensageiro e Glaucia conseguiu sobreviver durante um tempo com o pouco que recebeu do hospital. Hoje ela trabalha como cuidadora em uma casa de repouso.
Mas nenhuma dificuldade financeira destruiu a ligação entre as duas mulheres. Cotinha foi acomodada no quarto da filhinha de Glaucia, Emilly, de 3 anos, que passou a dormir no quarto dos pais.
Ajuda
Por dois anos, a história de Cotinha ficou no anonimato, mas agora Glaucia resolveu buscar ajuda para custear a alimentação da idosa.
As duas passaram alguns sufocos, como quando Cotinha teve pneumonia, mas a cuidadora foi atrás e conseguiu um médico que financiasse o tratamento. Hoje, a idosa é totalmente saudável. “Ela não toma remédio algum”, disse.
Mesmo assim, Glaucia procura apoio para cuidar de Cotinha, até que consiga regularizar a situação da idosa e conseguir uma aposentadoria para ela. Quem puder ajudar com roupas ou alimentos pode entrar em contato com a Glaucia no telefone (16) 98200-9625 ou 99963-2598.
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