“Dinheiro, sangue, sexo”. Estes são os três pilares em que se baseia o novo livro do jornalista italiano Gianluizi Nuzzi que, nos últimos 10 anos, tem investigado a história do Vaticano e que divulga com novas revelações, envolvendo contas milionárias de papas e abusos sexuais.
O livro “Peccato originale” (Pecado original, em tradução livre) foi lançado na Itália, nesta quinta-feira (9) e já está causando polêmica. Isto porque inclui revelações muito inconvenientes para o Vaticano.
Um dos pontos mais incômodos da obra, para as altas instâncias da Igreja Católica, é o relato de um jovem polonês que viveu no pré-seminário do Vaticano, no Palácio São Carlo, onde residem muitos cardeais e onde se inicia a educação sacerdotal de adolescentes que revelam predisposição para a vida religiosa. Estes rapazes são, muitas vezes, os “coroinhas” nas missas celebradas na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
O jovem polonês relata no livro como um ex-seminarista, que tinha autorização para permanecer no Palácio, costumava ir ao seu dormitório, praticamente todas as noites, para fazer sexo com o colega de quarto, que teria entre 17 e 18 anos e que se sentiria “obrigado a ceder às suas exigências”.
Este polonês, que viveu no pré-seminário entre os 13 e os 18 anos revelou, ainda, a Nuzzi que o ex-seminarista contava com a confiança do bispo responsável pelo espaço e que exercia “uma forma de poder e de intimidação” sobre os mais jovens, com atitudes de bullying e imposição de “atos sexuais”.
O livro publica também as cartas que o jovem teria enviado ao Papa Francisco denunciando a situação, concluindo que, apesar delas, nada teria sido feito no Vaticano.
Nuzzi contou, em coletiva de imprensa, que “outros dois testemunhos” corroboram a versão do jovem, realçando que o ex-seminarista acusado foi, recentemente, nomeado padre, conforme declarações divulgadas pelo Corriere della Sera.
“Peccato originale” também aborda aspectos financeiros e fala de contas de atuais e antigas de altas figuras do Vaticano. O livro inclui documentos e extractos bancários que atestariam as supostas contas milionárias dos papas Paulo VI e João Paulo II e de seus secretários pessoais.
Um livro sobre “os hereges” do Vaticano
“É um livro sobre os hereges na cúria, sobre os que adoram mais os negócios do que a palavra do Evangelho. Sobre esse bloco de poder que, como dizemos na capa [do livro], dificulta a ação reformadora de Bergoglio. Não é coincidência que 90% da hierarquia não tenha mudado, como se esperaria após a renúncia de Bento XVI”, explica o jornalista ao Corriere della Sera.
Nuzzi tem dedicado os últimos dez anos à investigação sobre o Vaticano e seus meandros. Esse trabalho já originou quatro livros, contando “Peccato originale” – antes desta obra, o autor lançou “Vaticano Spa”, “Sua Santidade, as cartas secretas de Bento XVI” e “Via Crucis”.
“Ainda havia muitos pontos perdidos na história do Vaticano que são relatados aqui”, refere Nuzzi sobre o novo livro, destacando que consultou “mais de 800 documentos originais do Vaticano”.
“Meu trabalho aborda um longo período da história da igreja e se concentra, em particular, em três aspectos: o papado de Paulo VI, a morte do papa Luciani e a renúncia de Bento XVI”, diz Nuzzi ao Corriere della Sera.
A obra oferece, para cada um destes temas, “elementos novos e inacessíveis”, sustenta o jornalista, anunciando que entregaria a primeira cópia do livro diretamente ao Promotor de Justiça do Vaticano. “Porque é justo que a autoridade judicial avalie os fatos relatados no livro para decidir se existem motivos para prosseguir”, constata.
Ciberia // ZAP