Mistério dos 200 mil antílopes que simplesmente caíram mortos em 2015 é finalmente desvendado

Steffen Zuther

Steffen Zuther e sua equipe de pesquisa recolhendo amostras dos antílopes mortos no Cazaquistão

Quando mais de 200 mil antílopes do tipo saiga caíram mortos num intervalo de poucos dias, no Cazaquistão, os cientistas ficaram assustados. Agora, pesquisadores trazem à tona ainda mais informações sobre o terrível evento.

O caso aconteceu em maio de 2015, quando, em apenas três semanas, 60% da população de antílopes saiga, uma espécie ameaçada, simplesmente morreu.

O mesmo fenômeno também tinha sido observado em maio de 1998, quando 270 mil animais morreram. Em maio de 2010, o mesmo problema aconteceu, de forma menos intensa, com a morte de 12 mil antílopes de um rebanho de 26 mil. O fato de os três surtos terem acontecido na mesma época do ano chamou a atenção dos pesquisadores.

Desde 2015, os cientistas sabiam que a causa da morte foi a infecção pelas bactérias Pasteurella multocida tipo B, que causa septicemia hemorrágica, mas não sabiam exatamente como uma bactéria que vivia dentro dos próprios antílopes, sem causar problemas, de repente os matava a um ritmo assustador.

A conclusão do estudo, agora publicado na Science Advances, realizada pela mesma equipe que analisou as mortes há três anos, é que a união de vários fatores que, individualmente, não trariam problemas para os animais, causou a mortalidade observada.

Os pesquisadores conseguiram determinar a principal condição para que a bactéria se torne mortal: um clima mais quente e úmido do que o habitual. Isto causa uma invasão das bactérias na corrente sanguínea dos animais e, consequentemente, a morte.

Além disso, o mês de maio é quando estes animais têm seus filhotes que nascem com o maior tamanho, em proporção à mãe, entre todos os mamíferos com cascos. Isso significa que as mães estão exaustas fisicamente, devido à gestação e ao parto, e que os recém-nascidos são mais vulneráveis à doença.

Analisando o histórico do clima no Cazaquistão, os cientistas encontraram o mesmo padrão em dois outros eventos de morte em massa: o já citado caso de 1998 e o de 1981, que deixou 70 mil animais mortos.

Ainda não foi possível explicar a relação entre o aumento de temperatura, a umidade e o surto da bactéria. Mesmo assim, segundo o estudo, há motivo para temer que a espécie já rara acabe extinta, uma vez que a região deve ficar ainda mais quente nos próximos anos.

Steffen Zuther, da Sociedade Zoológica de Franckfurt, na Alemanha, e da Associação para a Conservação da Biodiversidade do Cazaquistão, citado pela Escola Veterinária da Universidade de Londres, no Reino Unido, destaca a importância deste estudo na conservação das saigas.

“Compreender estes eventos de mortalidade em massa, o que os causa e o que podemos fazer para combatê-los, é muito importante para o desenvolvimento de estratégias de conservação das saigas”, explica Zuther.

Ciberia // HypeScience / ZAP

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …