Quatro pessoas que receberam órgãos da mesma doadora desenvolveram posteriormente câncer de mama, revelou um novo estudo. O caso, que remota a 2007, representa uma situação extremamente rara.
Rins, pulmões, fígado e coração foram retirados de um mesmo doador para serem implantados em quatro receptores diferentes e todos acabaram tendo câncer de mama depois da operação, segundo um estudo publicado em abril no American Journal of Transplantation.
Os quatro doentes desenvolveram metástases e três acabaram morrendo. O quarto doente conseguiu sobreviver depois de os médicos terem voltado a remover um dos rins doados e após ser submetido a múltiplos tratamentos.
A doadora, uma mulher holandesa de 53 anos que morreu na sequência de um ataque cerebral em 2007, não tinha nenhum problema médico conhecido, nem muito menos foi diagnosticado qualquer tumor maligno nos órgãos.
O autor do estudo, o professor de Nefrologia na Universidade de Amsterdã, Frederike Bemelman, qualificou o caso como “extremadamente raro“. “Há sempre um pequeno risco. [Mas] também há uma pequena probabilidade de que algo aconteça durante o processo”, comentou o especialista.
“Esse é o primeiro caso de transmissão de câncer de mama como resultado de um transplante de órgãos de um único doador que afetou quatro pacientes. Nenhum estudo anterior detectou um intervalo tão longo entre o transplante e a manifestação do tumor”.
Um caso “excepcional”
De acordo com o El País, o primeiro receptor afetado foi uma mulher de 42 anos que recebeu ambos os pulmões e foi diagnosticada com câncer de mama com metástases já em outros órgãos, apenas 16 meses após a operação.
Uma análise de DNA determinou que as células tumorais que acabaram matando a mulher eram provenientes da doadora. Frente a isso, a Eurotrasplant reportou o caso em janeiro de 2010.
A receptora do rim esquerdo também morreu da doença em 2013. Pouco depois, em 2014, a mulher transplantada com o fígado da doadora faleceu. Ela foi alertada sobre a presença do tumor em 2011, mas se recusou a remover o órgão.
O receptor do coração morreu cinco meses depois da operação devido a uma infecção. Em todos os receptores, foram detectados nas células tumorais marcadores de DNA que coincidiam com o perfil genético da doadora.
Um homem de 32 anos, que recebeu o outro rim, também foi alertado sobre a situação. E, nesse caso, o órgão foi removido, a doença foi tratada e conseguiu sobreviver – dos quatro transplantados, ele foi o único sobrevivente.
A transmissão de uma neoplasia – câncer – após um transplante de um órgão acontece apenas cerca de cinco vezes em 10 mil transplantes e na maioria dos casos a tecnologia disponível não permite que seja detectada antes da doação.
A Diretora de Serviços Médicos da Organização Internacional de Transplantes, Elisabeth Coll, afirmou à agência EFE que “os casos infelizes acontecem excepcionalmente, porque são impossíveis de serem detectados antes”.
“Antes de se fazer um transplante de qualquer órgão, são realizados todos os testes possíveis para descartar qualquer transmissão neoplásica”, salientou a responsável.
Ciberia // ZAP