Um novo estudo da Universidade do Texas, nos EUA, revela uma droga inédita que ataca uma fusão de genes encontrada em muitos tipos de câncer e foi eficaz em 93% dos pacientes pediátricos testados.
A maioria dos medicamentos contra o câncer é direcionada a órgãos ou locais específicos do corpo. O larotrectinibe é o primeiro remédio a receber a designação de terapia inovadora pela Administração de Drogas e Alimentos dos EUA.
O medicamento pode ser dado a pacientes com uma fusão específica de dois genes, independentemente do tipo de câncer que apresentam.
“Em alguns tipos de câncer, uma parte do gene TRK liga-se a outro gene, o que é chamado de fusão. Quando isso ocorre, o gene TRK passa a estar onde não deveria e faz com que as células cancerígenas cresçam. O que é único sobre a droga é que é muito seletiva, bloqueia apenas os receptores TRK”, disse o principal autor do estudo, Ted Laetsch.
Ou seja, o larotrectinibe tem como alvo as fusões de TRK, que podem ocorrer em muitos tipos de câncer, incluindo o de pulmão, colo do útero, tiroide e mama, assim como certos tumores pediátricos.
O TRK é um gene que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso, mais tarde tendo um papel limitado nas suas funções, como a regulação da dor na vida adulta.
Embora as fusões de TRK ocorram em apenas uma pequena porcentagem de cânceres comuns em adultos, ocorrem com frequência em alguns casos raros de câncer pediátrico, como fibrossarcoma infantil, nefroma mesoblástico congênito celular e câncer de tiroide papilar.
“Cada paciente com um tumor sólido positivo para fusão de TRK tratado nesse estudo viu o tumor encolher. A taxa de resposta quase universal vista com larotrectinibe é sem precedentes”, afirmou o Dr. Laetsch.
Por exemplo, o caso de Briana Ayala, de 13 anos, que tinha um tumor raro no abdômen em volta da aorta, a maior artéria do corpo. Apesar de arriscada, a criança foi sujeita a uma cirurgia para remover partes da aorta e se livrar da maior parte do tumor também.
Mas o câncer voltou a crescer e nenhum outro tratamento estava disponível. Briana tinha a fusão de TRK, pelo que se inscreveu para o ensaio clínico do larotrectinibe, tomando o medicamento duas vezes ao dia.
Em poucas semanas, a dor e o inchaço no abdômen diminuíram, e os exames mostraram que o tumor tinha diminuído significativamente. Quase dois anos depois, Briana está de volta à escola.
O larotrectinibe pertence a uma classe de moléculas conhecidas como inibidores de quinase, que atuam na redução da atividade enzimática de uma reação celular chave.
A seletividade do remédio significa que não causa efeitos colaterais severos associados a muitos tratamentos tradicionais de câncer. Nenhum dos pacientes com fusões de TRK teve que abandonar os estudos por causa de um efeito colateral induzido pela droga.
Igualmente importante, a resposta foi duradoura para a maioria dos pacientes. “Para alguns dos medicamentos-alvo no passado, muitos pacientes responderam inicialmente, mas desenvolveram resistência rapidamente. Até o momento, a resposta a essa droga parece ser durável na maioria dos pacientes”, comemorou Laetsch.
O próximo passo da pesquisa é um ensaio clínico que envolve uma droga semelhante para os pacientes que de fato desenvolveram resistência.
Os resultados foram publicados em março, na revista The Lancet Oncology.
Ciberia // HypeScience / ZAP