A igualdade salarial entre homens e mulheres só deverá se tornar realidade em 2186, daqui a 170 anos, indica o Fórum Econômico Mundial (WEF) em relatório sobre a paridade entre homens e mulheres divulgado nesta quarta-feira.
A Islândia lidera a classificação de países com maior igualdade entre homens e mulheres, na qual a Nicarágua ocupa um honroso décimo lugar, segundo o documento. O Brasil, por sua vez, aparece apenas na 79ª posição no ranking geral.
Segundo o estudo, no ritmo atual seriam necessários 95 anos para que mulheres e homens atingissem situação de plena igualdade no Brasil. Com uma população feminina mais educada e saudável que a masculina, o Brasil poderia rapidamente reequilibrar a relação de desigualdade entre homens e mulheres se adotasse “políticas concretas”.
Em particular, o país poderia reforçar “uma rede de apoio social que as liberte (as mulheres) para o trabalho”, disse uma especialista em entrevista à BBC Brasil.
As brasileiras têm um desempenho melhor que os brasileiros nos indicadores de saúde e educação, mas ainda enfrentam acentuada discrepância em representatividade política e paridade econômica, destaca o relatório.
Em 2015, o relatório apontava que seriam necessários “apenas” 118 anos para alcançar a igualdade salarial, disse Saadia Zahidi, uma das responsáveis por este relatório anual que é feito desde 2006.
Neste ano, as mulheres ganham em média 59% daquilo que os homens recebem, segundo o estudo sobre 144 países, que também avalia as diferenças entre sexos em matéria de educação, saúde e emancipação política.
Concretamente, se um homem ganha 100, uma mulher recebe apenas 59 pelo mesmo trabalho, e na maioria dos casos trabalhando mais horas.
Em 2008, esta proporção era de 58,3% e em 2013, o melhor ano deste índice, foi de 59,9%.
Liberação
Mas se os indicadores de base são fundamentalmente bons, por que o Brasil não consegue deslanchar na igualdade de gênero?
Saadia Zahidi, chefe para iniciativas de gênero e emprego do Fórum WEF, explica que é necessário adotar estratégias pragmáticas que promovam a inclusão das mulheres no mercado de trabalho bem remunerado e na política.
“Para mudar isso, é necessário uma abordagem consciente, do ponto de vista econômico, para o aproveitamento desses talentos. Já temos mais mulheres se graduando na universidade do que homens, não se trata do futuro, isso já é o presente. Precisamos agora empregar essa força produtivamente”, afirma.
Zahidi explica que a percepção geral é de que as mulheres devem cuidar da família. Nas camadas sociais mais elevadas, há recursos para bancar a ajuda de babás para crianças e enfermeiras para idosos.
No caso das camadas intermediárias e baixas da sociedade, essas responsabilidades recaem sobre as mulheres, o que as impede de trabalhar.
“Também é necessário mudar as percepções. Diversidade precisa ser vista como um motor para crescimento, propiciando investimento maior em infra-estruturas de cuidado. Mulheres de alta renda conseguem pagar para ter ajuda para as crianças e os idosos, mas mulheres de classe média e baixa não conseguem. É necessário oferecer a elas uma rede de apoio social que as liberte para o trabalho”, diz.
Islândia lidera
O Índice Global de Desigualdade de Gênero leva em consideração estatísticas de 144 países, que avaliam as condições enfrentadas por mulheres nas áreas de saúde, educação, paridade econômica e participação política.
Por países, os 10 mais igualitários são Islândia, Finlândia, Noruega, Suécia, Ruanda, Irlanda, Filipinas, Eslovênia, Nova Zelândia e Nicarágua.
Na Islândia, que lidera a lista pelo oitavo ano consecutivo, os homens recebem apenas 13% a mais que as mulheres.
Por regiões, a Europa ocidental ocupa a liderança, seguida pela América do Norte, América Latina e Caribe, Europa Oriental e Ásia Central. São seguidos pelo leste da Ásia e pelo Pacífico, pela África Subsaariana, pelo sul da Ásia, Oriente Médio e África do Norte.
Em nível mundial, 80% dos homens têm uma atividade, contra 54% das mulheres, enquanto o número de mulheres que ocupam cargos de responsabilidade continua sendo muito baixo.
Em apenas quatro países existe igualdade entre homens e mulheres em nível de dirigentes empresariais, embora em cerca de 100 países a taxa de mulheres com diplomas universitários seja maior ou superior que a de homens.
Em 2016, os avanços mais importantes em igualdade salarial foram registrados no setor da educação, onde a diferença entre homens e mulheres caiu 1%.
// Agência BR / BBC