NASA descobre grandes quantidades de água em cratera iluminada na Lua

Marshall Space Flight Center / NASA

Nesta segunda-feira (26), a NASA revelou os resultados de dois estudos que trouxeram novas descobertas sobre a Lua: dados obtidos pelo observatório aéreo Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy (SOFIA) confirmam, pela primeira vez, que existe água na superfície iluminada da Lua, onde a luz solar incide.

Já um estudo feito com dados da missão Lunar Reconnaissance Orbiter revelaram outras grandes áreas capazes de conter água por lá. Essas descobertas sugerem que a água pode estar distribuída pela superfície lunar, e não limitada apenas aos locais frios e na sombra.

Como voa a altitudes de cerca de 13 km, o SOFIA consegue ficar acima de 99% do vapor d’água na atmosfera e observa melhor o universo infravermelho. Com o instrumento Faint Object infraRed CAmera for the SOFIA Telescope (FORCAST), o observatório identificou o comprimento de onda específico das moléculas de água, e os dados mostraram que havia uma quantidade relativamente surpreendente na cratera Clavius, ensolarada e localizada no hemisfério sul lunar.

“Nós já tínhamos indicações de que a água que conhecemos poderia estar presente no lado iluminado da Lua, e agora sabemos que está lá”, diz Paul Hertz, diretor da divisão de astrofísica no Science Mission Directorate, da NASA.

Os dados mostram que a água se encontra concentrada em 100 a 412 partes por milhão — equivalente a uma garrafa de água de 300 ml — e presa em um metro cúbico de solo espalhado pela superfície lunar. Para comparação, considere o deserto do Saara, que tem 100 vezes a quantidade de água encontrada no solo lunar.

Como a Lua não tem atmosfera, essa água sob a luz solar já deveria ter sido perdida no espaço. “Mesmo assim, estamos observando-a. Tem algo gerando a água, e algo a prendendo lá”, diz Casey Honniball, do ASA Goddard Space Flight Center.

Isso levanta algumas questões: a água poderia estar presa em pequenas estruturas no solo que se formam pelo calor gerado pelo impacto de micrometeoritos, ou poderia estar escondida entre grãos de solo lunar e protegida da luz do sol.

As armadilhas de gelo

Já o outro estudo, produzido pelo professor Paul Hayne, verificou dados obtidos pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter para estudar a distribuição das “armadilhas de gelo”, locais onde a água não só poderia existir como também estaria permanentemente presa em locais na sombra. Eles encontraram essas armadilhas em tamanhos variados, além de sombras permanentes em ambos os polos lunares.

A equipe de Hayne encontrou 40 mil quilômetros de área capaz de reter água na superfície lunar, que é mais que o dobro da área que os cientistas esperavam ter água na Lua.

“Se você se imaginar de pé na Lua perto dos polos, você veria várias sombras. Muitas dessas pequenas sombras podem estar cheias de gelo”, explica.

O mais interessante aqui é que essas áreas de sombra são capazes de manter a água ou o gelo presos ali por grandes períodos. “Se a água entra ali, ela não vai para lugar nenhum por um bilhão de anos”, disse.

Hayne ressaltou que a equipe ainda iria precisar encontrar esse gelo com rovers ou missões tripuladas, mas a descoberta pode dar o suporte que as missões para os humanos voltarem para a Lua precisam.

A água é um recurso importantíssimo no espaço profundo e um ingrediente essencial para a vida como a conhecemos. A NASA tem planos para enviar a primeira mulher e o próximo homem para a Lua em 2024 por meio do programa Artemis, de modo que a agência precisa descobrir o máximo que puder sobre a presença da água por lá.

A existência de água por lá traz implicações importantes para futuras missões lunares, porque poderia ser tratada e usada para beber, utilizada como propelente de foguete e o oxigênio poderia ser usado para a respiração.

Para Ian Crawford, professor de ciência planetária e astrobiologia na Universidade de Londres, o local onde a água está pode ser mais acessível devido à luz solar. Entretanto, ainda é preciso verificar a forma em que a água existe ecomo extraí-la — e, no fim, a melhor forma fazer isso é voltando para a Lua, o que acontecerá em um futuro não tão distante.

Os estudos foram publicados na revista Nature Astronomy, e podem ser acessados aqui e aqui.

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