No Brasil, tragédia é estatística para certos segmentos raciais – e o efeito do preconceito e do racismo como combustível da violência policial, por exemplo, pode ser medido em números: é o que prova o relatório elaborado pela Rede de Observatórios da Violência, divulgado na última quarta-feira, 9 de dezembro, trazendo dados das mortes ocorridas a partir de operações policiais em cinco estados brasileiros – incluindo a Bahia, o mais negro dos estados do país, no qual a capital, Salvador, é a cidade mais negra do mundo fora da África.
E na proporção de pessoas negras assassinadas, é justamente a Bahia quem lidera o ranking, que demonstra a dimensão da violência contra a população negra.
Entre janeiro e dezembro de 2019, dos 650 casos de assassinatos assinalados no estado, 474 vítimas foram identificadas como negras, e somente 15 como brancas – e se o número de brancos não passa dos 3% do total, a totalidade de vítimas negras pode ser ainda maior, visto que em 161 casos a vítima não foi identificada.
Não por acaso, o nome do relatório é “A Cor da Violência Policial: a bala não erra o alvo”, e foi detalhado em matéria do jornal Correio 24 horas.
“Quando analisamos os dados percebemos que tanto no imaginário das pessoas como o que vemos recorrentemente na mídia é que pessoas negras são as que mais morrem em operações policiais. Por isso, o nome do nosso relatório é ‘A cor da violência policial: a bala não erra o alvo’, porque ela atinge majoritariamente pessoas negras”, afirmou Luciene Santos, da Rede de Observatórios da Bahia e pesquisadora da ONG Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas.
“Pensando nessa estrutura do racismo, quem são essas pessoas e esses territórios que são passíveis de serem mortos e violentados? A Bahia, proporcionalmente, é o estado que mais mata negros em operações policiais”.
O Rio de Janeiro, no entanto, foi o estado em que a polícia mais matou em 2019, com 1.814 mortos, e o ranking é completado por São Paulo, Bahia, Ceará e Pernambuco.
E para quem sugere que a população de maioria negra na Bahia explica a estatística de 96,9% de vítimas negras no estado, vale olhar o restante dos dados. Em Pernambuco, estado em que 61,9% da população é negra – e onde 74 pessoas foram oficialmente assassinadas em 2019 pela polícia – , 93,2% das vítimas eram negras.
Já no Ceará, com 66,9% da população negra, 87,1% das 136 mortes tiraram vidas negras, enquanto no Rio, cuja população negra representa 51,7% dos habitantes, cerca de 86% das vítimas da polícia em 2019 eram negras, e em São Paulo, com 34,8% da população negra, 62,8% das 815 mortes em operações policiais foram de pessoas negras.
O relatório pode ser lido na íntegra aqui.
// Hypeness