Maior agência humanitária do planeta é premiada por seu trabalho no combate à fome no mundo. Comitê destaca necessidade da cooperação multilateral nos dias de hoje.
O Programa Alimentar Mundial da ONU, maior agência humanitária do planeta, foi agraciado nesta sexta-feira (09/10) com o Prêmio Nobel da Paz por seu empenho para combater a fome no planeta, anunciou o Comitê do Nobel da Paz, em Oslo.
A organização foi reconhecida pelo seu trabalho durante a pandemia de covid-19, que “contribuiu para um forte aumento no número de vítimas da fome no mundo”, afirmou o comitê.
Segundo a agência, mais de 821 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome crônica, enquanto outros 135 milhões enfrentam fome severa ou inanição e outros 130 milhões podem se juntar a esse grupo no final de 2020 devido à pandemia. A América Latina foi especialmente atingida pelo coronavírus, com o número de habitantes que precisam de assistência alimentar quase triplicando.
A organização destacou a necessidade de cooperação multilateral nos dias de hoje e os esforços da agência da ONU para “melhorar as condições para a paz em áreas afetadas por conflitos”, disse o comitê Nobel. “A agência atua como uma força motriz no esforço para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito”, acrescentou.
A organização, baseada em Roma, ajuda cerca de 97 milhões pessoas em cerca de 88 países a cada ano. Segundo ela, uma em cada nove pessoas no mundo ainda não têm o suficiente para comer.
“A necessidade de solidariedade internacional e cooperação multilateral é mais clara do que nunca”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do Comitê do Nobel.
O Programa Alimentar Mundial foi criado em 1962 a pedido do então presidente americano Dwight Eisenhower, como um experimento para fornecer ajuda alimentar por meio do sistema da ONU. No ano seguinte a sua criação, desenvolveu seu primeiro projeto de merenda escolar, e, em 1965, se tornou um programa das Nações Unidas de pleno direito.
Atualmente, dois terços dos trabalhos da agência são realizados em países afetados por conflitos, onde as populações têm três vezes mais chances de estarem subnutridas do que em qualquer outra região do mundo. Há poucos lugares do mundo onde a agência nunca atuou. Sua maior resposta de emergência, no entanto, tem sido no Iêmen, onde tenta alimentar 13 milhões de pessoas por mês.
O programa é financiado inteiramente por doações voluntárias, a maioria vinda de governos. Em 2019, a agência arrecadou 8 bilhões de dólares, usados para fornecer mais de 4,2 milhões de toneladas métrica de alimentos e 2,1 bilhões de dólares em benefícios em espécie e vouchers. Ela possui mais de 17 mil funcionários, do quais 90% estão em países onde a agência oferece assistência.
O porta-voz da agência, Tomson Phiri, afirmou que este é “um momento de orgulho”. “Uma das belezas das atividades do programa é que não apenas fornecemos alimentos para hoje e amanhã, mas munindo as pessoas com conhecimento, os meios para se sustentar no próximo dia e os nos dias seguintes”, acrescentou.
O Nobel vale 10 milhões de coroas suecas, ou seja, cerca de 1,1 milhão de dólares. O programa normalmente receberia o prêmio do rei Carl Gustaf 16º numa cerimônia formal em Estocolmo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do cientista Alfred Nobel. Mas a cerimônia presencial foi cancelada neste ano devido à pandemia do coronavírus, e será substituída por uma cerimônia televisionada, com os laureados recebendo os prêmios em seus países de origem.
Seguindo a tradição, o prêmio de paz é o quinto anunciado todos os anos, após o de medicina, o de física, o de química e o de literatura. Neste ano, o Nobel de Medicina premiou o trio de cientistas Harvey Alter, Charles Rice e Michael Houghton pela descoberta do vírus da hepatite C, enquanto o Nobel de Física foi para os pesquisadores Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez por estudos sobre a formação de buracos negros.
Já Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna foram laureadas com o Nobel de Química pela descoberta de um método para a edição do genoma conhecido como CRISPR-Cas9 ou “tesoura genética”. O Nobel de Literatura ficou com poeta americana Louise Glück. Ainda falta o anúncio do laureado no campo de economia, que ocorre na próxima semana.