Duas contagens realizadas pela prefeitura, a primeira em 2015 e a segunda em março deste ano, sinalizam que o número de ciclistas vem crescendo em Curitiba: em duas horas de acompanhamento, 466 pessoas passaram de bicicleta pela esquina da Rua Mariano Torres com a Sete de Setembro, um número 198% maior em relação à contagem anterior.
Segundo o professor e coordenador do Projeto Ciclovida da Universidade Federal do Paraná (UFPR), José Carlos Belotto, a infraestrutura cicloviária municipal avançou de cinco anos para cá, principalmente pelo envolvimento da população.
Grupos e movimentos cicloativistas passaram a fazer cobranças que garantiram novas implementações, como a ciclofaixa da Av. Marechal Floriano Peixoto, depois de Curitiba passar quase duas décadas adormecida, sem novas iniciativas para quem se locomove de bicicleta.
“As primeiras ciclovias ligavam parques entre si e foram pensadas para o lazer. Muitos caminhos ainda permanecem com essa característica. A cidade teve melhorias, mas ainda estamos longe de poder afirmar que a nossa infraestrutura é ideal para os ciclistas”, diz Belotto.
O professor sinaliza que Curitiba é uma das cidades brasileiras com mais condições de adequar sua infraestrutura e atingir o padrão de mobilidade verificado em muitos países europeus, como na Holanda. “Mas, para isso, é preciso construir mais ciclovias que não se restrinjam ao centro da cidade e que interliguem os bairros”, afirma.
Para Belotto, a via calma da Sete de Setembro, por exemplo, pode se estender pela Avenida República Argentina, enquanto a que foi delimitada na João Gualberto pode continuar por dentro de bairros mais afastados como Boa Vista, Atuba e Santa Cândida.
Projetos municipais
Alguns projetos com o objetivo de melhorar a infraestrutura cicloviária estão em andamento junto à prefeitura.
O vereador Goura Nataraj (PDT) cita o investimento de R$ 2,3 milhões em iluminação de trechos estratégicos e o projeto da Bicicleta Pública de Curitiba, assinado na gestão anterior, com 480 bicicletas disponíveis para serem alugadas em 43 estações espalhadas no centro e bairros adjacentes.
“Agora precisamos criar uma rede cicloviária e levar ciclovias para a região sul da cidade, a mais densa e mais pobre da cidade, onde a bicicleta pode fazer muita diferença”, destaca. Outro projeto envolve a criação de ciclovias intercampi, ou seja, que conectem os campi universitários.
Goura aponta, ainda, que nos países onde a bicicleta já se tornou um dos principais meios de transporte, as políticas públicas vieram como resultado da pressão popular.
“As pessoas começaram a se locomover mais e mais de bicicleta e, com isso, exigiram a construção de infraestrutura adequada. A diferença é que, sobretudo na Europa, os gestores tomaram consciência e tiveram empatia com a causa, fazendo dela uma prioridade”, analisa.
O vereador explica que as conquistas devem partir de demandas e reivindicações populares, mas precisam do apoio do governo para ser efetivadas. Aqui, até mesmo as empresas de ônibus pressionam em sentido contrário ao da mobilidade alternativa.
“Por muito tempo a Urbs achou que incentivar a bicicleta ia desestimular as pessoas a usarem ônibus, trazendo prejuízo para seus lucros. Temos que tirar a bicicleta dessa polarização política de esquerda ou direita e pensá-la para além disso: é um serviço para o cidadão”, avalia Goura.