No futuro, objetos misteriosos visitando o Sistema Solar, como aconteceu em 2017 com o Oumuamua, poderão ser interceptados por avançadas sondas robóticas posicionadas em outros sistemas estelares.
“Com este, fomos pegos de surpresa. Com o próximo, estamos prontos”, declarou Olivier Hainaut, astrônomo do European Southern Observatory (ESO), que trabalhou em vários estudos sobre o Oumuamua.
O objeto 1I / 2017 U1, que depois foi nomeado como Oumuamua, apareceu por aqui em outubro de 2017, e até hoje ainda se discute sobre o que ele é, e de onde teria vindo. Estudos chegaram a levantar suspeitas de que ele teria vindo de um sistema com dois sóis, e outra discussão que rendeu foi sobre sua natureza — se ele seria um cometa ou um asteroide. Ainda, há também quem acredite que o Oumuamua poderia ser uma nave alienígena.
Para além dessas hipóteses, o que é certo é que outros objetos espaciais como o Oumuamua visitarão o Sistema Solar novamente — e a ciência quer estar preparada para interceptá-los em tempo para que mais observações nos ajudem a compreender este fenômeno cósmico.
Quando o Oumuamua passou por aqui, nossos vários telescópios de chão e na órbita da Terra conseguiram uma observação limitada do objeto, que era pequeno demais, rápido demais e foi detectado tarde demais. Agora, ainda mais distante, ele está muito longe e muito escuro para novas observações com as tecnologias atuais. “Ele se foi para sempre”, afirma David Trilling, astrônomo que liderou as observações do telescópio espacial Spitzer nessa missão.
Mas os astrônomos que descobriram a passagem do Oumuamua por aqui não se contentaram com a experiência e pretendem se preparar para que os próximos objetos do tipo a nos visitarem sejam melhor compreendidos.
Quanto Trilling e seus colegas publicaram seu primeiro estudo sobre o Oumuamua, eles sugeriram que telescópios atuais podem ver intrusos como este a cada cinco anos, sendo que, quando a nova geração de grandes telescópios for inaugurada (em meados da década de 2020), poderemos identificar um objeto do tipo por ano. Outras estimativas indicam que isso poderá acontecer, ainda, até 10 vezes por ano.
Explorar um visitante interestelar que só está “dando uma passadinha” rápida por aqui é difícil, ainda mais sem saber de onde ele veio, quando ele aparecerá e quão perto da Terra passará. E por enquanto só temos os poucos dados do Oumuamua para se basear.
Para contornar esse problema, Olivier Hainaut disse que uma opção seria ter foguetes posicionados em stand-by para lançar uma nave relativamente pequena assim que o próximo objeto aparecer. Mas essa opção não é lá muito prática, tampouco acessível.
Outra opção seria manter no espaço uma nave presa ao estágio superior de um foguete, e apenas acioná-lo para lançamento quando o próximo objeto for detectado. No entanto, manter um sistema desses no espaço por meses (ou anos) pode ser arriscado, pois há uma série de fatores que representariam riscos aos equipamentos, como temperatura, detritos espaciais e rajadas de radiação solar.
Mas dentro de algumas décadas, o projeto Breakthrough Starshot pode oferecer uma opção mais rápida, barata e ousada para isso. A ideia é enviar minúsculas espaçonaves robóticas para outro sistema estelar, equipadas com lasers superpoderosos, viajando a talvez 20% da velocidade da luz. E esses robôs interestelares podem justamente estudar objetos espaciais que um dia visitarão o Sistema Solar, fornecendo uma série de dados sobre eles antes de sua passagem por aqui.
“Se tivéssemos a infraestrutura do Starshot, teria sido trivial perseguir o Oumuamua. Mesmo com uma velocidade de apenas um décimo de um por cento da velocidade da luz, seria possível alcançar Oumuamua em uma questão de meses”, disse Avi Loeb, astrônomo de Harvard.
Ele segue dizendo que “faz muito mais sentido esperar que o próximo objeto interestelar seja descoberto dessa maneira, pois se o pegarmos em seu caminho para nós, poderíamos contemplar uma missão espacial que voaria sobre ele, ou até mesmo pousaria nele”.
E Hainaut concorda: “O Starshot é extremamente interessante”, disse. Contudo, “o problema é que a tecnologia laser necessária está longe de estar pronta” — e o próximo visitante cósmico com o Oumuamua pode chegar antes disso.
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