Mensageiro interestelar Oumuamua deixou o Sistema Solar com três surpresas

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Impressão artística do primeiro asteroide interestelar: Oumuamua

Um dos momentos decisivos da astronomia planetária em 2017 foi a descoberta do primeiro objeto astronômico que entrou no Sistema Solar vindo do espaço interestelar.

Agora conhecido como ‘Oumuamua (palavra havaiana para “mensageiro”), o objeto foi descoberto pela equipe do levantamento Pan-STARRS no Havaí, no dia 19 de outubro.

Durante as três semanas seguintes foi, por sua vez, classificado como um cometa, um asteroide de longo período, acabando finalmente por ser classificado como o primeiro de uma nova classe de objetos interestelares.

Assim que a verdadeira trajetória de ‘Oumuamua foi confirmada, todos os telescópios disponíveis foram usados para estudá-lo o mais depressa possível, pois se afastava da Terra a uma velocidade muito alta.

O ‘Oumuamua foi, de fato, descoberto quando já se encontrava de saída do nosso Sistema Solar, depois de passar pela Terra e de ter sido finalmente observado no céu noturno, quando estava no mesmo lado do Sol, não era visível.

Agora, o ‘Oumuamua está muito tênue para ser observado até mesmo com os maiores telescópios, mas sua breve passagem nos forneceu algumas raras informações em primeira mão sobre um sistema solar distante, e nos deixou três surpresas.

Antes de discutirmos os aspectos surpreendentes de ‘Oumuamua, aqui estão alguns dos seus fatos menos inesperados:

Não se movia muito depressa em relação às estrelas mais próximas. Na verdade, foi o Sistema Solar que se deparou com ‘Oumuamua e não o oposto. Isto significa que a estrela progenitora de ‘Oumuamua orbita a galáxia em uma órbita ordeira situada no disco galático, como a maioria das outras estrelas locais.

O ‘Oumuamua é pequeno e fraco. Não temos a certeza do tamanho exato, pois não sabemos quão refletiva é sua superfície, mas tem definitivamente menos de um quilômetro de comprimento.

Outra qualidade não significativa do ‘Oumuamua é sua cor, um pouco avermelhada e, portanto, muito semelhante à de alguns dos nossos próprios cometas e asteroides distantes.

A primeira surpresa do ‘Oumuamua é que não é um cometa. O ‘Oumuamua foi inicialmente classificado como um cometa, não por ter coma, ou cauda (não tem nem uma nem outra), mas porque esperávamos que os objetos interestelares fossem cometas.

Nossos planetas gigantes expulsaram muito cometas (e muitos menos asteroides) para o espaço interestelar durante a formação do Sistema Solar.

Nós sabemos disso porque alguns não foram exatamente “perdidos”, e ficaram “presos” na nuvem de Oort, um enxame gigante de cometas em órbita do Sol a distâncias enormes.

Em combinação com o fato de que os cometas são mais fáceis de observar do que os asteroides com o mesmo tamanho (os cometas já eram conhecidos na Antiguidade e os asteroides só foram descobertos no século XIX), esperávamos que o primeiro visitante interestelar fosse um cometa, mas estávamos errados.

A segunda surpresa é quão alongado o ‘Oumuamua é. As mudanças no brilho do ‘Oumuamua, ao longo do tempo, mostram que o objeto tem mais ou menos a forma de um charuto, uma relação de eixo de 5:1 a 10:1.

A proporção é muito extrema entre os asteroides do Sistema Solar e certamente não seria de se esperar se selecionássemos aleatoriamente um corpo entre os mais de 100 mil asteroides conhecidos. Caso a forma do ‘Oumuamua seja típica da população de onde é originário, as coisas devem ser muito diferentes no seu sistema natal, em comparação com o nosso.

A terceira surpresa foi o fato de que o ‘Oumuamua “cambaleia”. Ao início, se notou que o ‘Oumuamua tinha um período de rotação de 7 ou 8 horas, mas diferentes medições não concordavam. Descobriu-se então que a rotação do ‘Oumuamua não é regular, que executa um movimento cambaleante e complexo que mostra diferentes vistas do corpo em diferentes momentos.

Alguns asteroides no nosso Sistema Solar também têm este comportamento, mas a vasta maioria não tem.

Os cientistas pensam que isto ocorre porque os movimentos internos do material no interior dos asteroides, que são muitas vezes apenas aglomerados de rocha e poeira suavemente mantidos juntos pela gravidade, amortecem o cambalear bem rápido (astronomicamente falando), deixando apenas os asteroides que sofreram colisões recentes como cambaleantes.

O ‘Oumuamua é provavelmente um pedaço sólido de rocha ou metal, sem qualquer estrutura interna ou material solto.

Então, por que o ‘Oumuamua é como é? Não se sabe, embora tenhamos algumas ideias. O ‘Oumuamua pode ser um pedaço de um planeta destruído por forças de maré, enquanto passava perto de uma anã vermelha em um sistema binário.

A ideia é que o planeta se formou em redor da companheira da anã vermelha, mas sua órbita foi desestabilizada e o planeta passou pela anã vermelha e foi lançado para o espaço interestelar.

As estrelas anãs vermelhas podem ser surpreendentemente densas, algumas delas são do tamanho de Júpiter, mas com 100 vezes a sua massa. Isto faz com que suas marés sejam muito fortes, e as marés podem perturbar os corpos que se aproximam demais, por exemplo, como Júpiter fragmentou o cometa Shoemaker-Levy em 1994.

Se um planeta pode ser destruído em trilhões de fragmentos, que são depois expelidos para o espaço interestelar, tais eventos catastróficos podem produzir mais objetos interestelares do que as expulsões regulares de cometas e asteroides por planetas.

E agora, o que fazemos? Bem, continuamos à procura de mais objetos interestelares para ver como são e provavelmente não vamos ter que esperar muito. Um novo telescópio, o LSST (Large Synoptic Survey Telescope), está sendo construído no Chile e deve entrar em operação em 2022.

O LSST será um telescópio robótico que realizará uma varredura completa do céu, incluindo objetos muito tênues, a cada três dias, de modo que encontrará, literalmente, qualquer coisa que se mova. Se o ‘Oumuamua não foi um acaso, o LSST deverá detectar aproximadamente um exemplo deste tipo de objetos todos os anos.

O ‘Oumuamua é o primeiro e quase certamente não será o último visitante interestelar descoberto. Aguardamos ansiosamente pelo próximo visitante.

Ciberia // CCVAlg / ZAP

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