Uma equipe internacional de cientistas descobriu no espaço profundo a origem dos neutrinos – partículas subatômicas capazes de percorrer milhões de anos-luz e atravessar toda a matéria – que foram detectados em setembro na Antártida.
Segundo anuncia a equipa, em um estudo publicados nesta quinta-feira (12) na revista Science, os neutrinos detectados no Polo Sul em setembro tiveram origem em uma galáxia elíptica a 4 bilhões de anos-luz da Terra, que gira em torno de um buraco negro supermassivo – um fenômeno conhecido como ‘blazar‘.
Os neutrinos foram registrados pelo detector de partículas Icecube, uma rede de mais de 5 mil sensores de luz dispostos em uma grade a mais de um quilômetro de profundidade, enterrado no gelo do Polo Sul.
Quando um neutrino interage com o núcleo de um átomo, cria uma segunda partícula que, por sua vez, gera um cone de luz azul que é detectado pelo Icecube. Como a segunda partícula e a luz que gera mantêm o mesmo trajeto do neutrino, torna possível aos cientistas detectar onde começou esse trajeto.
O Icecube está sempre examinando o céu, mas na maior parte dos casos, os neutrinos que detecta são partículas de baixa energia, criadas por colisões de partículas subatômicas provenientes de raios cósmicos com núcleos de átomos na atmosfera terrestre.
Apesar de ser o maior do mundo no seu gênero, desde que começou a funcionar em 2013, o Icecube só conseguiu detectar 82 neutrinos de alta energia. Para identificar a origem do neutrino que atravessou o Universo, foi usada uma rede de instituições e pesquisadores, incluindo os que trabalham com alguns dos maiores telescópios do mundo.
O ‘blazar’ identificado já é conhecido dos astrônomos, que o designam apenas por uma referência alfanumérica, e caracteriza-se por gerar jatos de partículas altamente energéticas que apontam para a Terra.
Os neutrinos, que os cientistas designam como “partículas-fantasma” porque quase não têm massa, são altamente voláteis, praticamente não interagem com a matéria e não são afetadas por campos magnéticos. É isso que explica que os misteriosos neutrinos possam percorrer distâncias inimagináveis sem nunca mudar de direção.
Foi em 1912 que o físico austríaco Victor Hess provou que as partículas ionizadas que os cientistas encontravam na atmosfera vinham do espaço.
A carga energética das partículas dos raios cósmicos podem ser até centenas de milhões de vezes mais poderosas do que os seres humanos conseguem criar, como as que emanam do acelerador de partículas do CERN, na Suíça.
Na Via Láctea, não se conhece nada que consiga gerar forças tão poderosas, e a origem dos neutrinos detectados na Terra era até agora um mistério.
Ciberia, Lusa // ZAP