Lenine, o símbolo máximo da Revolução de 1917, é lembrado em Moscou com centenas de estátuas de bronze e um mausoléu na Praça Vermelha, junto ao Kremlin. E, por enquanto, ninguém quer pensar na hipótese de retirar o corpo embalsamado do líder socialista do mausoléu.
A necessidade de sepultar o corpo de Lenine é discutida desde a Perestroika. Mas, por enquanto, nem a Igreja Ortodoxa nem o presidente Vladimir Putin consideram a hipótese de retirar o corpo embalsamado de Vladimir Ilitch Ulyanov, ou Lenine, do mausoléu de mármore, aos pés do Kremlin.
Tanto o Governo como a Igreja Ortoxa concordam que a sociedade não está pronta para dar esse passo. Andrei Kolesnikov, especialista do Centro Carnegie, afirma que “nem Putin, nem os clérigos querem aborrecer o partido comunista”.
Vladimir Legoida, diretor do departamento de comunicação do Sínodo Sagrado da Igreja Ortodoxa da Rússia, sustenta que “o ideal seria enterrá-lo“. “Mas é preciso que o país esteja preparado”, disse.
Em março, nas comemorações do centenário da revolução, o Sínodo dos Bispos da Igreja Ortodoxa no exterior publicou uma declaração na qual defende que tirar da Praça Vermelha os restos do “maior perseguidor e executor do século XX” seria o símbolo da “reconciliação dos russos com o Senhor“.
No entanto, representantes do Patriarcado de Moscou vieram a público contestar esta posição, advertindo que os vizinhos próximos estariam usando o termo “descomunização” como uma espécie de “desrrussificação”.
Segundo Alexander Shchipkov, vice-presidente do departamento de comunicação do Sínodo Sagrado da Igreja Ortodoxa da Rússia, “a presença na Praça Vermelha não tem nada a ver com as tradições cristãs” e que só podem ponderar o enterro quando “uma campanha de ‘dessovietização’ tiver sido encerrada no território pós-soviético“.
Apesar da discórdia, a verdade é que o culto à imagem do líder bolchevique vai perdendo intensidade. Uma pesquisa realizada em abril pelo Centro Iuri Levada mostra que 58% da população concordaria em sepultar Lenine. Mesmo assim, a maioria (78%) é contra retirar o monumento em sua homenagem na Praça Vermelha, o coração político do país.
É provável que o assunto se dilua com o tempo – ainda que a discussão sobre o que fazer com a múmia de Lenine ressuscite a cada aniversário da Revolução.
Ciberia // ZAP