O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, declarou neste domingo a “libertação” da cidade iraquiana de Mossul, depois de uma sangrenta batalha contra o grupo extremista autodenominado Estado islâmico que durou nove meses.
Abadi foi à cidade para anunciar a conquista e “felicitar os heroicos combatentes e o povo iraquiano por ter conseguido esta grande vitória”, segundo um comunicado do governo.
Em vídeo publicado pela assessoria de imprensa de Al-Abadi, o premiê aparece em uma concentração de civis reunidos para comemorar “a vitória das forças iraquianas” sobre os radicais do EI, que ocuparam a cidade há três anos.
Os cidadãos gritavam palavras de ordem como: “Com alma e sangue resgatamos o Iraque”, a fim de apoiar a luta contra o EI e a expulsão do grupo terrorista da cidade, que os extremistas consideravam como sua “capital” no Iraque.
As comemorações acontecem apesar de Mossul não ter sido oficialmente declarada totalmente livre, devido à presença de alguns focos de resistência terrorista na área histórica da cidade.
Berço do califado
Há três anos, o Estado Islâmico assumiu o controle da cidade de Mossul, onde o grupo proclamou seu “califado”, um estado governado de acordo com a Sharia (lei islâmica), pelo substituto de Deus na Terra, o califa.
A ofensiva para expulsar o EI de Mossul e de toda a província de Ninawa começou em outubro de 2016 e, desde então, as tropas iraquianas, apoiadas por milícias e pelo exército curdo “peshmerga”, retomaram dos extremistas amplos territórios ocupados desde 2014. Combatentes árabes-sunitas e militantes xiitas também se juntaram à luta.
A guerra para reconquistar Mossul foi muito mais difícil do que o esperado. Em janeiro, o governo anunciou a “libertação” da parte leste da cidade, mas o lado oeste apresentou desafios muito maiores por causa das ruas estreitas e sinuosas e da grande população.
De acordo com organizações humanitárias, cerca de 900.000 pessoas foram deslocadas da cidade desde 2014, quase a metade da população que existia antes da guerra.
Antes da guerra, Mossul, com seus quase dois milhões de habitantes, era uma das cidades mais diversas do Iraque, com uma população de árabes, curdos, assírios, turcomanos e muitas outras minorias religiosas. Foi a capital rica em petróleo da província de Nínive, no norte do Iraque.
Mas em junho de 2014, a cidade foi invadida pelo Estado Islâmico, e foi de lá que o grupo extremista enviou uma mensagem que chocou o mundo.
Antes de tomar o controle de Mossul, o Estado Islâmico era apenas um grupo local. Ao tomar a cidade, o grupo extremista explodiu no cenário global.
Seis meses antes de tomar Mossul, o grupo, que então era chamado de “Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla em inglês)”, havia capturado a cidade oriental de Fallujah e em seguida obteve importantes vitórias na guerra civil na Síria.
Mas quando entraram Mossul, entre 10.000 e 30.000 soldados e forças de segurança iraquianas abandonaram suas armas e fugiram frente a cerca de 800 extremistas, segundo estimativas atuais.
Desde então, o grupo destruiu a autoridade do Estado na região, estabeleceu um regime brutal que levou a um êxodo em massa dos habitantes e impôs sua autoridade perseguindo minorias e matando oponentes.
A libertação de Mossul é uma enorme perda para o Estado Islâmico, que o priva de muitas das suas principais rotas de abastecimento que saem do Iraque em direção à Síria, onde o grupo também mantém uma forte presença.
Segundo o professor Paul Rogers, do Departamento de Estudos da Paz da Universidade de Bradford, na Inglaterra, o grupo já demonstrou sua capacidade de recrutar seguidores e organizar ataques em todo o mundo.
“Há cada vez mais evidências de que a EI está se tornando um insurgente de longo prazo no Iraque e na Síria, e também está se desenvolvendo como um movimento global. Então, não devemos nos apressar para declarar a derrota do grupo jihadista”.