Quem disser “campos de morte poloneses” será preso

jechstra / Flickr

A entrada do antigo campo de concentração de Auschwitz, na Polônia

O senado da Polônia aprovou nesta quinta-feira (1º) uma lei sobre o Holocausto que prevê até três anos de prisão para quem utilize a expressão “campos de morte poloneses”, sob a justificativa de que visa “defender a imagem do país”.

Israel já contestou a lei, acusando a Polônia de “querer reescrever a história” por pretender apagar as referências aos campos de extermínio que foram instalados pelo regime nazista no país, durante a Segunda Guerra Mundial.

O projeto de lei prevê um máximo de três anos de prisão ou o pagamento de uma multa a quem utilize a expressão “campos de morte poloneses” ou para quem acusar a Polônia de cumplicidade com o Holocausto.

A lei foi aprovada por 57 senadores contra a vontade de outros 23 e duas abstenções. Para entrar em vigor, precisa agora de ser promulgada pelo presidente do país, Andrzej Duda, que já disse, em resposta ao governo israelense, que o país não pode voltar atrás e que os poloneses têm o direito de “defenderem a verdade histórica”.

Em Israel, segundo o jornal Haaretz, vários ministros do governo criticaram fortemente a posição do senado polonês. “A lei aprovada pelos poloneses é grave e constitui uma negação de responsabilidades e do papel da Polônia no Holocausto Judeu”, afirma o ministro Yisrael Katz, citado pelo Haaretz.

Já o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros israelense, Zipi Livni, considera que a lei polonesa é “inaceitável”, acusando o senado polonês de “cuspir na cara de Israel”.

“Israel precisa responder firmemente para, abertamente e de forma imediata, colocar na agenda a documentação dos crimes dos poloneses, durante o Holocausto, e para enviar uma mensagem clara: não vamos permitir que se esqueçam do passado”, acrescenta Zipi Livni no diário israelense.

Os EUA já se uniram aos protestos de Israel, pedindo à Polônia que reconsidere a posição e expressando “profunda preocupação” pelos efeitos do projeto de lei.

“Expressões como ‘campos de morte poloneses’ são imprecisas, suscetíveis a induzir em erro e causar sofrimento, mas temos o receio de que se o diploma for promulgado, afete a liberdade de expressão e o debate histórico”, declarou a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert, em comunicado.

“A verdade histórica”

A Polônia foi atacada e ocupada pelos nazista durante a Segunda Guerra Mundial, que levou à morte de milhões de cidadãos do país, incluindo três milhões de judeus poloneses.

Há muito tempo que a Polônia contesta o uso de expressões como “campos de morte poloneses”, que sugerem que o país compartilhou de alguma forma responsabilidades com a Alemanha nazista no que toca a campos de concentração como o de Auschwitz.

Esses campos foram construídos e operados pelos nazistas, depois de terem invadido a Polônia em 1939, algo que o atual ministro israelense da Educação e da Diáspora, Naftali Bennett reconheceu.

“É um fato histórico que os alemães iniciaram, planejaram e construíram os campos de morte na Polônia”, salientou Naftali Bennett, conforme cita a Lusa, realçando que “essa é a verdade”, que “nenhuma lei irá reescrevê-la” e que é preciso passar estes dados “à próxima geração”.

Entretanto, Naftali Bennett também afirmou que é “um fato histórico que os poloneses apoiaram o homicídio de judeus, que os entregaram aos nazistas e até que mataram judeus durante e depois do Holocausto”. Algo que a nova lei aprovada “ignora vergonhosamente”, referiu o ministro israelense.

O governo polonês respondeu que o projeto de lei não tem como objetivo limitar a liberdade de investigar e discutir o Holocausto, apenas o de proteger o nome do país no exterior. Antes do voto, o autor da legislação, o vice-ministro polonês da Justiça, Patryk Jaki, defendeu que a reação de Israel “prova o quão necessário é o projeto de lei”.

Ciberia // ZAP

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