Remédios comuns estão ligados a risco 30% maior de demência

Um novo estudo britânico sugere que algumas classes de drogas anticolinérgicas – particularmente as usadas para tratar depressão, mal de Parkinson e incontinência urinária – podem levar a um risco maior de demência.

Não é de hoje que os cientistas sabem que o uso prolongado de certos medicamentos pode afetar negativamente a cognição. Alguns anticolinérgicos são perigosos neste sentido: podem levar a um risco 30% maior da condição. Um artigo sobre a pesquisa foi publicado em abril no British Medical Journal.

Os anticolinérgicos bloqueiam os efeitos da acetilcolina, uma substância química liberada pelas células nervosas para enviar sinais a outros nervos e músculos.

Os remédios são prescritos para 20% a 50% de idosos nos Estados Unidos para tratar uma variedade de condições neurológicas, psiquiátricas, gastrointestinais, respiratórias e musculares. No Reino Unido, 34% a 48% dos adultos mais velhos os tomam.

O novo estudo analisou o risco de demência em cerca de 350 mil idosos no Reino Unido. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que tomaram por um ano ou mais certos tipos de anticolinérgicos, como os usados para tratar depressão, Parkinson e incontinência urinária, tinham cerca de 30% de aumento no risco de desenvolver demência no futuro.

Algumas outras classes de anticolinérgicos – incluindo os utilizados para asma e problemas gastrointestinais – não pareceram aumentar o risco da condição.

A análise se baseou em informações do Banco de Dados de Pesquisa Clínica do Reino Unido para identificar 40.770 pacientes, com idades entre 65 e 99 anos, que foram diagnosticados com demência entre abril de 2006 e julho de 2015.

Os cientistas compararam quantas doses diárias de drogas anticolinérgicas foram prescritas entre 4 e 20 anos antes do diagnóstico nesses pacientes, em relação a um grupo de controle de quase 300 mil indivíduos.

“No total, houve 27 milhões de eventos de prescrição. Descobrimos que cerca de 9% dos casos de demência tinham tomado anticolinérgicos no passado, em comparação com cerca de 6% do grupo de controle”, disse George Savva, da Universidade de East Anglia, principal autor do estudo.

Isso significa que os pacientes com diagnóstico de demência tiveram mais exposição a medicamentos anticolinérgicos durante o período de estudo.

Especificamente, os anticolinérgicos usados para depressão (por exemplo, amitriptilina), incontinência urinária (a oxibutinina) e doença de Parkinson (como prociclidina) foram associados a um risco aumentado de cerca de 30% de desenvolver demência.

Isso quer dizer que, se uma pessoa tem um risco base de 10% de desenvolver demência em determinado ano, esse risco aumenta para 13% com o uso a longo prazo desses medicamentos.

Embora o risco aumentado de 30% seja significativo, ainda é menor do que o risco associado a outros fatores modificáveis para demência, como tabagismo, isolamento social e inatividade física. Esses fatores de estilo de vida estão associados a um aumento de 40% a 60% no risco de desenvolver demência.

As razões exatas para a ligação entre anticolinérgicos e demência não são claras. Os cientistas sabem que os níveis de acetilcolina são expressivamente mais baixos em pessoas com o mal de Alzheimer, a causa mais comum de demência em adultos mais velhos, pelo que algumas drogas anticolinérgicas podem bloquear a atividade normal da substância em regiões do cérebro associadas à memória e à cognição, resultando em sintomas de demência.

Há também algumas evidências vindas de estudos com animais de que os anticolinérgicos podem afetar a neuroinflamação.

É necessário ressalvar, no entanto, que a pesquisa foi de natureza observacional, o que torna difícil tirar conclusões definitivas sobre causalidade. Ou seja, não prova que anticolinérgicos causam a condição.

No entanto, particularmente à medida que as opções de tratamento aumentam, esses resultados dão peso à noção de que os médicos devem ser proativos na identificação de alternativas aos anticolinérgicos, se possível.

Os cientistas não aconselham que os pacientes parem de tomar medicamentos por conta própria.

Ciberia // HypeScience / ZAP

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