Exercício físico não impede o avanço da demência

Exercícios físicos para pessoas com sintomas de demência leve ou moderada “não funcionam”, de acordo com estudo publicado no British Medical Journal.

Os cientistas queriam testar sugestões, feitas por estudos anteriores, de que exercícios poderiam prevenir o declínio de habilidades cognitivas, como no caso de pacientes com o mal de Alzheimer.

No entanto, eles disseram que não identificaram melhorias nas habilidades de raciocínio ou no comportamento da doença ao analisar os casos de mais de 300 pessoas, na casa dos 70 anos, que fizeram exercícios aeróbicos e de força durante quatro meses.

O lado positivo foi que o condicionamento físico dos que participaram da pesquisa melhorou. Mas foi constatado que, 12 meses depois, as habilidades cognitivas das pessoas que fizeram exercícios tiveram um declínio levemente maior do que pessoas que não fizeram.

Novos testes devem ser feitos para explorar outras formas de exercícios, dizem os cientistas da Universidade de Oxford.

Atualmente, a ideia de criar programas de atividades físicas para pacientes com demência, estudada pelo NHS, o sistema de saúde público britânico, não parece ser um bom investimento, na avaliação dos cientistas.

No estudo, 329 pacientes com demência fizeram exercícios em uma academia de 60 a 90 minutos duas vezes por semana, num período de quatro meses. Os pacientes fizeram pelo menos 20 minutos de bicicleta e também ergueram pesos leves enquanto se levantavam de uma cadeira.

Os pacientes que participaram do estudo também foram orientados a fazer exercício em casa por uma hora todas as semanas.

Esse grupo que fez exercício foi avaliado e comparado com um grupo de 165 pessoas – também com demência – que recebeu cuidados convencionais.

Sallie Lamb, que comandou a pesquisa, disse que os resultados revelaram que apesar da nítida melhora na condição física, esses benefícios “não se traduzem em melhorias nas habilidades cognitivas, nas atividades da vida diária, comportamento ou na qualidade de vida relacionada à saúde.”

Após 12 meses, testes de comprometimento cognitivo mostraram declínio nos dois grupos – mas um declínio levemente maior no grupo dos que fizeram exercícios.

Martin Rossor, professor de neurologia clínica da University College London, diz que os resultados do estudo não surpreendem uma vez que a degeneração do cérebro começa muitos anos antes dos sintomas como, por exemplo, em casos de Alzheimer.

“Portanto, a mensagem é que o exercício é bom, mas iniciar um regime de exercícios uma vez que a doença esteja estabelecida pode ter valor limitado“, acrescenta.

Sara Imarisio, que comanda o centro de pesquisas Alzheimer’s Research UK, no Reino Unido, diz que outras formas de atividades físicas poderiam ter outros efeitos e que devem ser pesquisadas no futuro.

A diretora reforça, no entanto, que são muitos os benefícios dos exercícios físicos, além de fazer bem à saúde.

“Para muitas pessoas, o exercício pode ser uma fonte de prazer e proporcionar oportunidades valiosas para interação social”, avalia. “Isso se aplica às pessoas que vivem com demência tanto como para qualquer outra pessoa”, completa Imarisio.

Por isso, apesar dos resultados do estudo, especialistas ainda recomendam exercícios físicos, vistos como uma das melhores maneiras de reduzir o risco de contrair demência em idosos saudáveis. E avaliam que mais pesquisas são necessárias para elaborar um programa de exercícios que seja realmente eficiente para melhorar as condições de saúde do cérebro em quem já tem algum tipo de demência.

Os resultados foram publicados semana passada no British Medical Journal.

Ciberia // BBC / ZAP

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …