O horror do tráfico de pessoas escravizadas entre os séculos XVI e XIX para os EUA, Caribe, América Latina e principalmente o Brasil teve mais responsáveis do que nos dita a história. E a Suíça é um exemplo: ainda que não possua relação direta com o mercado e que sequer tenha acesso ao mar, o país lucrou como fiador econômico, parceiro, segurador e financiador do tráfico, através de banqueiros e empresários.
É por isso que, conforme mostra a matéria de Jamil Chade para o UOL, um grupo formado por políticos, historiadores, personalidades, acadêmicos e religiosos suíços lançou uma iniciativa para não só reconhecer e dimensionar a participação do país nesse sombrio mercado, como também para pressionar o governo para que algum tipo de reparo e indenização seja oferecida às famílias e aos países afetados.
Intitulado Comitê Suíço de Reparação da Escravatura (SCORES), o que o projeto propõe é inédito na história da escravidão para o continente americano. Liderado pelo historiador Hans Fässler, a iniciativa contraria a posição oficial de que a Suíça jamais foi uma potencia colonial e escravocrata, e confirma que diversas empresas, empresários e até o estado, através de participações militares na contenção de revoltas, participaram ativamente do tráfico de pessoas.
A primeira etapa do projeto foca no tráfico para a região do Caribe, onde o historiador estima que a Suíça seja responsável por entre 4% a 5% do envolvimento europeu nesse mercado ao longo de 200 anos – o equivalente a cerca de centenas de milhares de pessoas em situação de escravidão.
O trabalho do historiador já dura 15 anos, e sublinha o quanto o envolvimento no tráfico de pessoas no período foi importante para o desenvolvimento de setores importantes da economia suíça, como a indústria têxtil e o próprio conhecimento de comércio exterior.
É difícil calcular o montante justo, mas Fässler tem certeza que passa da marca dos bilhões de dólares. O debate é similar ao que houve no país nos anos 1990, sobre o confisco de ouro de famílias judias na Suíça durante e após o holocausto.
O grupo conta com o apoio de mais de 80 personalidades, entre políticos, líderes partidários, religiosos, ex-juízes, artistas e até Dick Marty, ex-presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Conselho Europeu.
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