Um estudo publicado neste mês na Suécia prega que ter menos filhos é a ação que pode ter mais impacto no combate às mudanças climáticas.
Mas os pesquisadores da Universidade Lund recomendam tal controle da natalidade apenas em países desenvolvidos, usando como argumento o fato de que nações como os EUA, por exemplo, são responsáveis pelas maiores emissões de carbono na atmosfera, e, por isso, teriam que fazer cortes mais drásticos para atingir “níveis seguros de emissões”.
De acordo com os termos do Acordo Climático de Paris, assinado em 2015, 195 países se comprometem a limitar a média global de aumento da temperatura em menos de dois graus Celsius.
Para isso, cientistas estimam que, até o ano de 2050, o volume de emissões per capita não possa ultrapassar 2,1 toneladas de carbono. No Brasil, segundo dados do Banco Mundial, a emissão é de 2,5 toneladas.
No estudo, publicado na quarta-feira na Environmental Research Letters, os pesquisadores Seth Wynes e Kimberly Nicholas afirmam que a redução não poderá ser obtida sem que famílias ou indivíduos tenham um filho a menos, apesar desta não ser a única medida recomendada.
“Não estamos sugerindo que isso vire lei ou coisa parecida. Sabemos que a decisão de ter ou não filhos é talvez a maior que alguém pode ter na vida, e que muitas pessoas não têm o clima como fator preponderante. Vejo isso mais como uma questão pessoal do que de política pública”, afirmou Nicholas, em entrevista à BBC.
“Apenas quisemos mostrar o impacto que decisões pessoais podem ter nos esforços de prevenção de mudanças climáticas. É importante que as pessoas saibam dessas coisas em suas vidas. Especialmente quando mostramos que ações como a reciclagem ou o uso de lâmpadas LED”, completa a especialista.
As conclusões são derivadas de análises e cálculos que, segundo os pesquisadores, levam em conta uma gama de ações individuais, das mais complexas como o controle da natalidade às mais simplórias como a reciclagem de lixo.
Wynes e Nicholas concluem, por exemplo, que ter um filho a menos contribuiria para uma redução média de 58,6 toneladas de CO2 na atmosfera por ano, uma quantidade muito maior que as outras três principais alternativas recomendadas: viver sem carro (2,4 toneladas), evitar viagens de avião (1,6) e adotar uma dieta vegetariana (0,8).
O impacto da opção por menos filhos teve como base de cálculo o total estimado de emissões dos filhos e demais descendentes divididos pela expectativa de vida dos pais.
A questão do crescimento populacional já faz parte dos debates sobre impacto humano no meio ambiente e, na última semana, um estudo publicado por acadêmicos da Universidade Stanford, culpou humanos pelo que classificou como “aniquilação biológica” – a extinção em massa de bilhões de espécies por causa da superpopulação e do consumo.
Segundo Nicholas, não há um número “mágico” de filhos a ser tidos ou evitados para obter um melhor resultado ambiental. Para Wynes, as características de desenvolvimento dos países deve ser levado em conta no cálculo.
No caso do Brasil, um país ainda em desenvolvimento, o consumo de carne e a quantidade de emissão per capita é muito inferior ao dos habitantes dos países altamente desenvolvidos. Por isso, as emissões são menores por pessoa e a diminuição no número de filhos não seria tão significativa.
“Nosso estudo se limitou a avaliar as grandes oportunidades de redução individual de emissões em países em que há as maiores taxas per capita desse tipo de poluição. Naturalmente, escolher ter famílias menores tem um impacto menor no Brasil”, diz Wynes.
“Nos países mais prósperos, o consumo de carne é mais alto, e isso aumenta o gasto de água, a necessidade de pastagens e também a liberação de gases. Daí que ter um membro a menos na família em países como os Estados Unidos é relevante para o meio ambiente”, acrescenta o pesquisador.
Além da redução do número de filhos, a adoção em massa de uma dieta baseada em vegetais é uma medida importante no combate ao aquecimento global, aponta Wynes.
“Queremos chamar a atenção para um fator que terá influência justamente sobre o futuro das próximas gerações, que herdarão o mundo. E não mostramos apenas a questão populacional, mas também o impacto de uma dieta vegetariana e de uma vida sem carro. Elas também têm impacto positivo”, conclui Nicholas.